21 de novembro de 2024

Pelé, fora das quatro linhas

Não lembro exatamente o ano dessa foto, que guardo com carinho e valor histórico enormes, mas foi entre 1995 e 1998, quando Pelé era ministro extraordinário do Esporte, governo de FHC.

A feliz ideia de reunir Pelé e Nilton Santos, que também morava em Brasília, foi de André Gustavo Stumpf, companheiro de redação do Correio Braziliense.

Durante quatro horas, esse time de repórteres, reunidos na casa do então diretor de jornalismo do Correio, Ricardo Noblat, conversou com essa dupla bicampeã do mundo – Suécia, 1958, e Chile, 1962. Papo pra lá de riquíssimo: Nilton, a Enciclopédia do futebol, e Pelé, o Rei.

Foram quatro horas de descontraída conversa, dividida em dois tempos, com um almoço no intervalo, quando não faltaram as gozações de Nilton. Bom carioca e amigo do “Negrão”, Nilton sabia como provocar Pelé, que não fugia da raia e entrava no espírito “daqueles tempos” em que se revelaram craques.

Além desse, tive outros dois encontros com Pelé. Uma entrevista, também para o Correio Braziliense, quando a “Lei Pelé” estava em construção, num encontro agendado pelo amigo e então seu assessor de imprensa, José Natal. Zé Natal. Obrigado, Zé, pelo valioso momento daquela entrevista.

Em outra ocasião, encontrei Pelé no Hotel Nacional, aqui em Brasília – atualmente desativado. Ele chegava para um evento da Secretaria de Turismo e, claro, fortemente assediado pela multidão de convidados. Pelé foi sempre assim, onde chegava reunia multidões. Ao ver os jornalistas que ali disputavam espaço, ele levantou os braços; com sua forte voz pediu um minuto de silêncio e disparou mais ou menos assim: “Pessoal, vou atender primeiro os amigos aqui da imprensa. Eles têm horário para voltar às redações e escrever suas matérias. Depois, teremos a noite toda para conversar”. O relógio marcava 19 horas e Pelé sabia que era momento de fechar o jornal. O horário dos repórteres já era pressionado pelos chefes e ele não teve dúvidas de dar prioridade aos que estavam trabalhando.

Assim era Pelé, fora das quatro linhas, um rei sem muitos protocolos e outras frescuras das autoridades de governo. Sempre atencioso e disposto para uma foto, um autógrafo, uma declaração.

Ficaram as ótimas lembranças e, claro, a saudade daqueles inigualáveis tempos da reportagem, que nos permitiam convivências com gente tão especial.

Sobre o autor

José Cruz

Em Brasília desde 1980, entrou para a reportagem esportiva em 1986. Cobriu os Jogos Olímpicos de Seul (1988) e Sidney (2000). Durante seis anos, manteve um blog no UOL, onde revelou esquemas de corrupção com verbas públicas no esporte. Em 2016 integrou a equipe da CPI do Futebol, no Senado, presidida pelo senador Romário.