18 de setembro de 2024

MARRETA, um Candango com muitas histórias

Por José Cruz

Na festa de seus 84 anos, Marreta, incentivador das peladas em Brasília, relembra “aqueles tempos”, é homenageado pela família e amigos e promete abrir os seus arquivos de sessenta e tantos ano sobre a história do futebol na capital da República

Marreta, com sua Mulher, Cleide, organizadora da festa para o histórico candango

O cearense Raimundo Ribeiro Campos desembarcou em Brasília em 1960, quando estava com 20 anos. Seu pai, Manoel, já estava por aqui, aonde chegou com mais 100 candangos para construir prédios residenciais nas quadras 400 da Asa Sul.

“Viciado” em futebol, bom de bola e com a fama de que era “o rei da praia”, em Fortaleza, onde morava, logo se vinculou ao Defelê – Departamento de Força e Luz – um dos clubes de destaques daqueles tempos. Depois, jogou no Rabello, outra “potência” no futebol dos primeiros anos da nova capital.

Certo dia, num dos jogos que disputava, Raimundo foi reconhecido por um conterrâneo, que indagou aos demais se aquele jogador forte e de jogo pesado era o “Marreta”.

Pronto! Nunca mais Raimundo foi chamado pelo nome próprio. E Marreta ficou até hoje, sessenta e tantos anos depois. Mas, por que Marreta? – quis saber.

“Me apelidaram de Marreta pela forma ‘delicada’ como eu enfrentava e desarmava os adversários, em campo”

A risada foi larga e incentivou o papo, que rolou por uma hora, com lembranças maravilhosas que ele contou, antes de os convidados chegarem para o almoço de seus 84 anos, na AABB de Brasília, seu reduto de trabalho e muito futebol por longos anos.

Com Sandra Reis, amiga de longa data: “Ele é uma pessoa maravilhosa”

No meio da conversa Marreta reforçou que o apelido foi por isso mesmo, pois quando se aproximava para desarmar um adversário “era como uma marreta, batia forte”… Mais risos desse simpático personagem, que se emociona ao lembrar de sua juventude.

A Pelada

Marreta não se convencia de que o futebol parasse a cada final de ano. “Em vez de jogar bola, a turma ia pros bares tomar pinga e cerveja”, recorda. Aquilo o incomodava.

Assim, com os campeonatos encerrados, ele decidiu preencher os sábados e domingos com peladas, times que se formavam entre amigos, “só para bater uma bolinha”.

A primeira pelada foi na própria AABB. Marreta conversou com o presidente da época que gostou da ideia e desafiou: “Faz o teu time que eu vou fazer o meu”. A turma começou a se organizar para jogar a “Pelada do Marreta”, jogo que pegou fama e passou a integrar o calendário de encerramento de temporada do futebol, repetindo-se por décadas.

“A festa era boa. Depois do jogo tinha bebida e comida. Era coisa pra confraternizar, mesmo”. A Pelada do Marreta ganhou fama e a imprensa esportiva sempre dava boa cobertura, pois as novidades vinham de fora e rendiam boas reportagens”.

Reforços de luxo

Com as festas de final de ano, muitos jogadores da cidade que atuavam em outros clubes vinham visitar os seus familiares. “E aproveitavam para reforçar os times de peladeiros daquele ano”, relembra Marreta, citando o goleiro Paulo Victor e o lateral Lúcio como assíduos nas “peladas” que promovia.

Marreta contou que até o bicampeão mundial, Nilton Santos, logo que veio morar em Brasília, reforçou o time dos peladeiros.  Os repórteres Zé Natal e Paulo Rossi, também foram “convocados” e jogaram algumas peladas.

“Marreta é uma pessoa maravilhosa”, resumiu Lindário, um ex-meio-campista que foi abraçar o amigo na festa de seu aniversário.

Marreta, com a família, na tradicional foto de aniversário

O neto

Marreta estava emotivo no dia de sua festa. Mas um desses personagens mudava esse semblante e sempre faz a diferença quando chega: é o seu netinho, Felipe, de três aninhos.

Simpático e falante, Felipe respondeu à curiosidade de repórter: “O Vovô é mesmo legal”?

– É sim. Ele faz tudo o que eu quiser”… respondeu o garotinho, provocando em Marreta uma emoção bonita de se ver.

 

O Vovô e o netinho: parceirinhos, como manda a regra

A festa de aniversário de Marreta foi organizada por sua mulher, Cleide, com o apoio de amigas e amigos. Eles criaram, inclusive, uma camiseta comemorativa com uma charge simbolizando o aniversariante. E na parte de trás da camiseta manaram gravarar um sugestivo pensamento do consagrado ator e escritor inglês, William Shakespeare:

Marreta, de costas, com o amigo e ex-peladeiro Carlos Antônio Rodrigues

Aos leitores:

O Massagista Anísio, que completou 90 anos em janeiro, já foi entrevistado por este site. Agora será a vez de Marreta, seis mais novo, porém contemporâneo de Anísio. Ele também se dispôs contar sobre a sua vivência desde as origens do futebol de Brasília, do qual é, personagem de destaque, quer como atleta, massagista e promotor de eventos.