2 de dezembro de 2024

No Tempo da Reportagem – Redenção do esporte

Esta é a primeira reportagem na imprensa brasileira que anunciou sobre o projeto de lei que criava a Lei das Loterias. Em 2001, por iniciativa do então deputado federal Agnelo Queiroz, do PCdoB, o projeto previa que 2% das arrecadações das loterias administradas pela Caixa seriam repassadas ao Comitê Olímpico do Brasil. O dinheiro se destinaria ao financiamento da preparação das equipes nacionais às Olimpíadas.

Naqueles anos, início de um novo século, o dinheiro para o esporte de alto rendimento era escasso. Preparar atleta para representar o país em eventos internacionais era uma dificuldade enorme e o prejuízo se observava no fraco desempenho do Brasil na maioria das modalidades esportivas.

A bem da verdade e para que se faça justiça e correções na história desse assunto, o pai dessa ideia, o cara que bolou esse financiamento que dura até hoje chama-se Gil Castello Branco. Gil, economista conhecido da imprensa brasileira, sabia onde buscar dinheiro público para investimentos de governo. Tudo de forma legal, é preciso dizer. A grande sacada de Gil naquele projeto é que o dinheiro das loterias que iria para o COB não sairia da parte que tocava ao governo, mas do prêmio a ser destinado ao vencedor. Como geralmente as premiações são de valores altos, dois por cento não fariam diferença ao premiado, que geralmente se torna um milionário, ainda hoje.

O projeto tramitou fácil na Câmara dos Deputados e foi aprovado, indo para apreciação do Senado. O então presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, achou uma excelente sacada e ficou se babando, pois teria dinheiro farto a partir de então. Mas ele não acreditava que o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, sancionaria um projeto de lei de um deputado do Partido Comunista do Brasil, e era aí que morava o perigo.

Esperto e bem articulado, Nuzman foi falar com um amigo senador, que havia assumido há pouco, como suplente de José Serra, guindado a ministro de Estado. O tal amigo de Nuzman era o senador Pedro Piva (já falecido), que topou apresentar um projeto de lei no Senado nos moldes do que estava vindo da Câmara. Assim, os dois projetos foram juntados – “apensados”, no linguajar legislativo, e tramitou também facilmente entre as excelência, que o aprovaram. Foi assim que FHC assinou, em sessão pública no Palácio do Planalto, a lei que ficou sendo conhecida por “Agnelo Piva”, até hoje em vigor. Os detalhes estão nessa reportagem a seguir.

Sobre o autor

José Cruz

Em Brasília desde 1980, entrou para a reportagem esportiva em 1986. Cobriu os Jogos Olímpicos de Seul (1988) e Sidney (2000). Durante seis anos, manteve um blog no UOL, onde revelou esquemas de corrupção com verbas públicas no esporte. Em 2016 integrou a equipe da CPI do Futebol, no Senado, presidida pelo senador Romário.