Por Hélio Tremendani
Hoje, Terça-Feira de Carnaval, seria o desfile das escolas de samba do grupo especial de Brasília. Durante mais de 50 anos, o nervosismo tomava conta dos mil e tantos componentes da Aruc. E eu, como diretor, presidente ou colaborador, tinha que manter a tranquilidade num dia e em momentos de extrema ansiedade e natural emoção. Não era fácil.
Os ajustes finais nas fantasias, os retoques nas alegorias, o transporte de carros alegóricos, a checagem de componentes, enfim, nada podia dar errado. Um simples detalhe colocava o trabalho de um ano por água abaixo.
Por alguns anos, quando já estava próximo de sair para avenida me dava uma horrível dor no estômago. Eu recorria à minha mãe, Dona Juracy, e em alguns minutos um chá milagroso que ela preparava resolvia o meu problema. Eu tinha que manter a calma, mas ainda tinha muito chão – ou Avenida – pela frente.
Na hora da Escola entrar na avenida, o bicho pegava e aí era aquela emoção de arrepiar, com a queima de fogos e o grito de guerra do mestre Vareta para dar o embalo e a motivação decisivaspara todos. Confesso que, em algumas vezes, as lágrimas corriam, mas ninguém podia perceber. Eu tinha que me controlar na marra, não podia ser vencido pela emoção e passar a minha inquietação para os componentes.
Enquanto a Aruc desfilava o desafio era que tudo desse certo e, na maioria das vezes, deu. Afinal, nossa Escola conquistou 31 títulos de campeã, a mais premiada de Brasília. Ao final dos desfiles, na dispersão, sempre tinha o grito de “É campeã!” Porém, às vezes alguma coisa saía errado e então só nos restava aguardar o julgamento e torcer para que os jurados não tivessem percebido.
Na foto, recebo, a taça de campeã do Carnaval 1977, ao lado do saudoso Fernando de Carvalho, Athayde Passos da Hora, Wellington Vareta, com Carlos Black Pereira.
Sobrevivi

Mais tremedeiras. Quando vencíamos, a comemoração se estendia até altas horas. Mas quando perdíamos, minha missão era tranquilizar a todos e começar a planejar o Carnaval seguinte. Quem tem forte vínculo com a sua Escola sabe do que estou falando. Confesso que sobrevivi a tudo isso, mas só Deus sabe como…
O tempo passou. Hoje, vivemos uma nova – e triste – realidade. Estamos há dez anos sem desfile, tirando a péssima idéia do desfile de 2023, que foi no dia de São João.
Mas, se um dia os maravilhosos momentos na Avenida voltarem eu estarei lá como o mesmo entusiasmo daqueles tempos que deixaram saudades. Ou ajustando fantasias ou ajudando a levar e empurrar os carros alegóricos ou incentivando os componentes ou torcendo, suando… Farei tudo da mesma forma de quando comecei, em 1975, e acabei me envolvendo com essa paixão que é trabalhar pelo desfile da minha querida Escola de Samba.
Salve a Aruc, viva o Carnaval!