12 de março de 2025

Torcendo para que o samba volte logo à Avenida

Por Hélio Tremendani

Hoje, Terça-Feira de Carnaval, seria o desfile das escolas de samba do grupo especial de Brasília. Durante mais de 50 anos, o nervosismo tomava conta dos mil e tantos componentes da Aruc. E eu, como diretor, presidente ou colaborador, tinha que manter a tranquilidade num dia e em momentos de extrema ansiedade e natural emoção. Não era fácil.

Os ajustes finais nas fantasias, os retoques nas alegorias, o transporte de carros alegóricos, a checagem de componentes, enfim, nada podia dar errado. Um simples detalhe colocava o trabalho de um ano por água abaixo.

Por alguns anos, quando já estava próximo de sair para avenida me dava uma horrível dor no estômago. Eu recorria à minha mãe, Dona Juracy, e em alguns minutos um chá milagroso que ela preparava resolvia o meu problema. Eu tinha que manter a calma, mas ainda tinha muito chão – ou Avenida – pela frente.

Na hora da Escola entrar na avenida, o bicho pegava e aí era aquela emoção de arrepiar, com a queima de fogos e o grito de guerra do mestre Vareta para dar o embalo e a motivação decisivaspara todos. Confesso que, em algumas vezes, as lágrimas corriam, mas ninguém podia perceber. Eu tinha que me controlar na marra, não podia ser vencido pela emoção e passar a minha inquietação para os componentes.

Enquanto a Aruc desfilava o desafio era que tudo desse certo e, na maioria das vezes, deu. Afinal, nossa Escola conquistou 31 títulos de campeã, a mais premiada de Brasília. Ao final dos desfiles, na dispersão, sempre tinha o grito de “É campeã!” Porém, às vezes alguma coisa saía errado e então só nos restava aguardar o julgamento e torcer para que os jurados não tivessem percebido.

Foto de Chagas Boró, na apuração do desfile de 1977
Passadas as emoções do desfile, tinha mais. Na noite anterior à apuração ninguém dormia. No julgamento,quando as notas eram anunciadas, o suor tomava conta do corpo, chegando a cair aos pingos. Mais tremedeiras.

Na foto, recebo, a taça de campeã do Carnaval 1977, ao lado do saudoso Fernando de Carvalho, Athayde Passos da Hora, Wellington Vareta, com Carlos Black Pereira.

Sobrevivi

Foto do Instituto Aruc Cultural

Mais tremedeiras. Quando vencíamos, a comemoração se estendia até altas horas. Mas quando perdíamos, minha missão era tranquilizar a todos e começar a planejar o Carnaval seguinte. Quem tem forte vínculo com a sua Escola sabe do que estou falando. Confesso que sobrevivi a tudo isso, mas só Deus sabe como…

O tempo passou. Hoje, vivemos uma nova – e triste – realidade. Estamos há dez anos sem desfile, tirando a péssima idéia do desfile de 2023, que foi no dia de São João.

Mas, se um dia os maravilhosos momentos na Avenida voltarem eu estarei lá como o mesmo entusiasmo daqueles tempos que deixaram saudades. Ou ajustando fantasias ou ajudando a levar e empurrar os carros alegóricos ou incentivando os componentes ou torcendo, suando… Farei tudo da mesma forma de quando comecei, em 1975, e acabei me envolvendo com essa paixão que é trabalhar pelo desfile da minha querida Escola de Samba.

Salve a Aruc, viva o Carnaval!