11 de novembro de 2024

A voz feminina da “Casa dos Bambas”

Por Hélio Tremendani e José Cruz

“Foi, durante muitos anos, uma das principais vozes da noite brasiliense, apresentando o seu canto nos melhores espaços da cidade”. Angela Regina Silva desenvolveu o DNA musical da família e marcou época em memoráveis shows  das noites de Brasília.

Angela Regina lembra nome de cantora. Faz sentido. Inclusive, porque ela teve uma família intimamente ligada a instrumentos musicais e cantorias. Uma família alegre, antes de tudo. Sem exageros, uma família que incorporou o clássico “Na minha casa todo mundo é bamba…”

“Exceto por algumas pequenas e sutis diferenças, a música composta por Martinho da Vila representa muito bem esse fragmento da grande Família Da Silva, que traz a música em seu DNA”.

Depoimento de Alex Silva, irmão de Angela Regina, em seu livro “Minha Trilha Sonora – Do Vinil ao Digital

 Caminhadas artísticas

É nessa publicação (foto abaixo) de 135 páginas e bem ilustrada que Alex conta sobre a trajetória musical de sua família, com detalhes sobre os rumos artísticos de cada integrante, primos, inclusive. Ele já havia falado sobre esse dom musical na entrevista à Memória da Cultura e do Esporte em Brasília, em 28 de julho de 2024.

Agora, é a vez de Angela Regina (sem acento no A) a irmã de Alex. Ela fez uma retrospectiva das alegres noites da Capital da República, aonde chegou com 4 anos, vinda com a família do Rio de Janeiro. Aqui, ela estudou, trabalhou e, principalmente, chegou aos palcos de bares e boates, a partir dos anos 1980, que marcaram época e deixaram saudade.

 Nas origens

Alegre e sorridente, Angela Regina, a terceira de seis irmãos – dois faleceram, Antônio Sérgio, o Petit, e Antônio Carlos, o Thonde – construiu carreira sempre valorizando a família.  Não esqueceu, por exemplo, a convivência com a Vó Tunica (Antônia), “que lavava a roupa cantarolando”, hábito que ajudou a despertar em Angela Regina o gosto pela música.

“Eu era superfã da Vó Tunica. Ela não sabia que tinha uma plateia oculta”

Vó Tunica e seu filho, Nelson, pai de Angela Regina

Com Yayana

No Rio de Janeiro, Angela Regina morava no bairro da Abolição. Era lá que ela acompanhava a mãe Yayana ouvindo rádio e cantarolando clássicos da época, interpretados por estrelas como Elizeth Cardoso, Ângela Maria, Cauby Peixoto, Pixinguinha, Cartola…

“Minha mãe ouvia muito Silvinha Teles. Através dela também conheci Tom Jobim e Linda Batista, que cantava Risque, música que fazia parte do repertório de Yayana”.

                                               “Risque, meu nome do seu caderno

                                                 Pois não suporto o inferno

                                                 Do nosso amor fracassado…”

 No livro “Minha Trilha Sonora”, Alex descreve sobre a sua mãe, Yayana (foto), em trecho emocionante:

“Tinha um sorriso contagiante que cativava as pessoas. Intérprete do estilo Elizeth Cardoso, de voz firme e afinada, que desistiu da carreira de cantora para se dedicar aos seis filhos, todos, de alguma forma, ligados à música. Orgulhava-se de ter recebido nota 3,5 do rigoroso apresentador Ary Barroso (autor de Aquarela do Brasil), que adotava o 5 como nota máxima. (…) Dona Yayana nos deixou em 2005, prestes a completar 73 anos”.

 A surpresa

Um episódio narrado pelos próprios filhos demonstra bem a ousadia de Dona Yayana e a sua paixão pela música.

Certa madrugada, Alex chegou com alguns amigos no Bar Singular, na Super Quadra 315 Norte, que era um dos redutos da boa música de Brasília.

Ainda do lado de fora, eles ouviram uma “bela voz feminina, bem acompanhada por músicos de primeira”. Alex não teve dúvidas: “Essa voz é da mamãe”. A turma caiu na gargalhada. Foram em frente e, já dentro do bar, tiveram a surpresa: era mesmo Dona Yayana quem se apresentava, dando uma canja, sob aplausos de casa cheia. Aquele momento mereceu reportagem de Irlan Rocha Lima, no Correio Braziliense.

No livro de Alex

Sobre a irmã, Angela Regina, Alex estava sempre próximo, como um dos incentivadores da carreira musical que ela seguiria mais tarde.

“Se não estivesse na escola ou fazendo as tarefas escolares, Angela Regina ficava horas a fio sentada no chão, em frente à rádio-vitrola Telefunken União, um único móvel que reunia toca-discos e rádio, ouvindo o melhor da MPB ou os hits internacionais”, revela Alex.

Nessa rotina, Angela Regina já selecionava as letras e melodias que gostava, numa época de farta criação em que nascia o que passou a ser conhecido por Música Popular Brasileira (MPB).

O primeiro disco

Angela Regina lembra do primeiro disco que conheceu, ainda criança, de Elza Soares. Era um disco de 78 rotações por minuto, preciosidade na época que antecedeu os LPs – Long Plays, depois substituídos pelos CDs

“Lembro de minha mãe cantando “Boato”, de João Roberto Kelly, a predileta dela. Mais tarde, ela me contou, que quando tocava essa música eu falava `o boato de minha mãe´. Eu ainda nem falava direito, mas já vinculava a música à preferência dela”. O refrão de Boato diz:

“Você foi a mentira que deixou saudade, todo boato tem um fundo de verdade”

O pai

O pai dessa Família de Bambas era Nelson “Sorriso”, como era conhecido. Não tocava um só instrumento. “Mas, ele era mestre para afinar violões e cavaquinhos, com precisão de profissionais”, revela Angela Regina. Funcionário do Supremo Tribunal Federal, ele morreu muito cedo, em 1979, aos 57 anos.

Sobre essas lembranças de Angela Regina, o seu irmão Alex assim escreve no livro que publicou:

“Segui os passos da família, dos dois lados, mãe e pai, já falecidos. Continuamos a ser uma família muito musical. Quando os irmãos se reúnem sai música, pois todo mundo toca” …

Arlindo, o irmão mais velho, toca violão e cavaquinho. Ele foi o responsável por introduzir o Black Music e os hits americanos na discoteca da Família Silva. Depois vem o Alex. “E tinha o primo Zezinho, que tocava no grupo Sambrasil, um dos mais requisitados de Brasília, naquela época.

Sem poeira

“O tipo de música que eu canto não levanta poeira”, diz Angela Regina, repetindo citação de Tom Jobim, para introduzir o assunto sobre o repertório que ela apresentava nas noites musicais de Brasília.

“O meu repertório não é um repertório dançante, embora eu dance no embalo da música que interpreto”

Certa noite, numa boate no Lago Sul, em Brasília, Angela Regina era acompanhada por um trio, piano, baixo e bateria. A música Deixa, de Baden Powell, estava no repertório. Ela afirma que redescobriu Elis cantando essa música:

 

“Deixa
Fale quem quiser falar, meu bem
Deixa, deixa o coração falar também…”

 “Nessa apresentação, me lembrei das danças de roda que fazíamos em casa e chamei a minha mãe e um irmão que lá estavam para me acompanharem. No início, eles se assustaram, mas subiram no palco e me ajudaram no embalo, no canto e na ginga de Deixa”.

São dois pra lá, dois pra cá” – uma das canções de referências de Elis – está no repertório de Angela Regina. E há outros clássicos da nossa MPB. “Verde”, por exemplo, letra de Costa Neto e música de Eduardo Gudin, terceira colocada no Festival dos Festivais da Rede Globo, em 1985:

Quem pergunta por mim,
Já deve saber, do riso no fim
De tanto sofrer, que eu não desisti, das minhas bandeiras,
Caminhos, trincheiras, da noite
Eu, que sempre apostei, na minha paixão
Guardei um país no meu coração, um foco de luz, seduz a razão…

Preparando o repertório

O comportamento e desempenho artísticos de Angela Regina refletem o aprendizado ao longo da convivência com a família, com os pais e irmãos, sobretudo. Sobre isso, ela recorda:

“Eu sempre fui uma garota muito sossegada. Eu estudava de manhã e, à tarde, ouvia rádio. Eu sou da época em que se anotava a letra das músicas que se gostava. Anotava em pedaços de papéis, folhas de cadernos que eu guardava tudo junto. Isso me ajudou muito, principalmente quando me tornei cantora e fui preparar o meu repertório. As letras estavam todas ali, eram músicas que se tornaram clássicas ao longo dos anos”.

Aos poucos, Angela Regina era conduzida para o circuito da boa música. Tudo ajudava.

“Meu pai levava amigos lá para casa, onde sempre tinha festa. A cantora era a minha mãe. E, quando rolava uma música que as pessoas não sabiam a letra, Alex dizia: “Aposto que a Angela sabe” – e eu sabia. Fui desafiada, certa vez, em Viagem, de João de Aquino e Paulo César Pinheiro, por exemplo”.

Oh, tristeza me desculpe,

 Estou de malas prontas….

Hoje a poesia veio ao meu encontro

Já raiou o dia, vamos viajar

Uma nova cantora

“Em outras ocasiões, o meu irmão Alex tocava violão e eu e minha mãe cantávamos. Nas festas que ele ia, também me convidava. Chegando lá, ele falava: `Hoje eu trouxe uma cantora´. E eu pensava: um dia, ainda vou cantar num bar”.

Certa ocasião, na volta para casa, Angela Regina pediu para que Alex a levasse junto quando fosse se apresentar num bar. Ela queria cantar em um microfone. Esse dia chegou, foi na inauguração do Bar Odara Café Concerto, na 405 Sul. Era uma festa para convidados especiais, imprensa, para o pessoal da Escola de Música…

“Eu estava adorando aquele ambiente, principalmente o repertório, aquelas músicas que gostava e conhecia. Pois foi nesse dia que Alex lembrou da minha vontade de cantar num microfone e resolveu me anunciar. Lembro que falei que não queria mais, pois morria de vergonha”…

Porém, mais para o final da noite, Angela Regina se animou e pegou o microfone. Cantou uma música do italiano Lucio Dalla, apresentado pela primeira no Festival de San Remo, em 1971. No Brasil a tradução e gravação original foi de Chico Buarque: “Minha história”.

“Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar
Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar
Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente
E minha mãe se entregou a esse homem perdidamente, 

Laiá,  laiá, laiá, laiá….”

 Bronca e convite

Quando Angela Regina terminou de cantar, um homem no meio dos convidados gritou para Alex:

– Quem é essa menina”?

Alex respondeu que era a irmã dele.

– Você não me falou que tinha uma irmã cantora”! – protestou.

E concluiu:

“Minha filha, eu quero você cantando aqui. Você tem 15 dias para me apresentar um repertório”.

Era Rômulo Marinho, o dono do Bar Odara Café Concerto, que estava contratando Angela Regina, publicamente. E foi assim que começou a carreira artística dessa carioca-brasiliense.

Papeizinhos

Nessas duas semanas para apresentar o repertório, Angela Regina conta que foi buscar os papeizinhos que, ainda jovem, escrevia as letras das músicas que gostava. “O repertório estava todo ali, estava pronto”, revelou.

“Fui empurrada para noite musical de Brasília pelo meu irmão. Bendito Alex! Meu irmão é meu fã! Logo eu que não planejei ser cantora, me tornei cantora por acaso” …

No Feitiço Mineiro

Em 1998, no Feitiço Mineiro (foto abaixo), na 306 Norte – histórico espaço cultural da capital, criminosa e impunimente transformado numa farmácia… – Angela Regina fez um show com músicas de seus compositores favoritos: Chico Buarque, Tom Jobim e Gonzaguinha entre eles. No encerramento, ela reuniu a família no palco.

“Sempre que possível, eu colocava a minha mãe para cantar comigo. Ela voltou a cantar depois que criou os filhos. Cantava em casa, em festas, em palcos. O Carlos, primo do Reco do Bandolim, levava mamãe para cantar com ele. Tinha o bar Salamanca. Médicos que gostavam de cantar se reuniam lá com ela. Tinha o Xereta, na 314 Sul, hoje é o Faisão Dourado; também ia no Cristal, na 415 Sul, no Cavaquinho, 307 Sul, onde eu também batia ponto”.

 Redutos da música

Nessa viagem pelo tempo da boa música, há mais redutos que Angela Regina frequentou e se apresentou, não só à noite, mas em fins de semana ensolarados pelos bares e botecos de Brasília: Flor Amorosa, Chorão, Trem do Lago, Odara, Degraus, Bom Demais, “que era o ambiente da Cássia Eller” , recorda.

“A música que eu canto está nesse casamento que deu muito certo, cerveja, feijoada e samba. E se for num sábado de sol, melhor…”

Em São Paulo       

Angela Regina ganhou destaque nacional quando se apresentou no Memorial da América Latina, em São Paulo, no Encontro das Cantora Negras, em 1997. Nessa ocasião, ela cantou “Verde” (Leila Pinheiro), “com uma interpretação fenomenal, ela foi presenteada com exibição do final da sua apresentação com um link ao vivo no Fantástico” – escreveu o irmão Alex, em seu livro de memórias da Família Silva.

Ouvido afinado

Certa vez, o Arlindo, meu irmão mais velho começou uma música no cavaquinho e eu reclamei que o acorde não era o que ele tocava. Sou assim, o meu ouvido sabe se o acorde está certo ou errado. Sou bem filha do Seu Nelson, não toco nenhum instrumento, mas afino muito bem”.

“Não toco nenhum instrumento, saí ao meu pai.

Tai, nunca tinha pensado nisso…”

Comportamento

“As pessoas gostam de se apresentar, de cantar, mas esquecem de ouvir outro artista. Conversam muito durante as apresentações, criam um ambiente de barulho. Lamentei, também, não encontrar os meus colegas em outros shows. Eu sempre fui aos shows no Clube do Choro. Sempre estive lá na plateia, depois no palco, porque, antes de tudo, eu gosto é de música”!

Depoimento

Nessa conversa de difusão da boa música e do samba, em especial, Hélio Tremendani, desportista, carnavalesco e sambista histórico de Brasília – não necessariamente nessa ordem – lembra que o Projeto Pixinguinha foi iniciativa do Governo Federal, permitindo show com o preço de ingressos abaixo do de mercado, para popularizar a música. É de Hélio (na foto com Angela Regina) o depoimento a seguir:

“O Projeto Pixinguinha começou em 1977 no teatro da Escola Parque e foi para o Cláudio Coutinho, devido ao público, que aumentou bastante. Depois, no governo distrital de Cristovam Buarque, o projeto Temporadas populares tinha o mesmo perfil, mais voltado para artistas locais, mas sempre com um de grande nome de fora. Os ingressos eram baratos, coisa de R$6,00 e 3,00. E o cachê era muito bom, pois tinha um patrocínio forte. O projeto não ficava só no Plano Piloto, mas se apresentava em Sobradinho, Ceilândia, Taguatinga…”

 Duplas de destaque

Entre os shows do Projeto que se destacaram estão as das duplas Paulinho da Viola e João Nogueira, Nara Leão e Dominguinhos, Moreira da Silva e Jards Macalé e Marlene e Gonzaguinha.

“Para conseguir ingresso para esses shows era preciso chegar muito cedo e já encontrava fila enorme”, recorda Hélio 

 Temporadas populares

“Também tivemos a fase das Temporadas Populares e, em seguida, o Verão Funarte, sendo que numa das etapas eu participei com Zélia Duncan”, disse Angela Regina.

Em termos locais, os Festivais do Ceub e da Aseel, na Escola Parque e os Clubes do Samba, no Teatro Galpão também marcaram época e ajudaram a popularizar a MPB, enquanto Brasília crescia, mas as oportunidades de lazer eram raras. Foi aí que a música encontrou espaço privilegiado e foi ao encontro de seu público.

Comparações

Sobre bares, boates e botecos, Hélio Tremendani, que acompanha a evolução de Brasília em todos os seus segmentos, desde o início da cidade, avalia os ambientes em que Angela Regina se apresentava e os de hoje. Assim:

“Os bares eram o espaço, o palco de Brasília. Hoje não temos mais isso, mas são outros tempos…. Nos anos 1970, 1980, o músico cantava num bar e em outro e ficava ali em boas temporadas. Aquilo fidelizava o público, que seguia os cantores. Hoje, se vai a um bar é um cantor ou cantora que está se apresentando. Se volta na outra semana é outro artista, outro tipo de música… Mas, claro, hoje temos outra geração que forma um novo público, novos hábitos”…

Noite pelo dia

“O Eixão e os parques da cidade estão ocupando esse espaço que era dos bares, boates e botecos, – lembra Angela Regina, reportando-se a uma nova realidade de lazer na cidade.

Hélio Tremendani concorda com essa observação. “Há uma nova geração que se identifica com a música em ambientes livres. O Chorinho e o Samba, principalmente, estão nesses locais, grupos musicais tocando ao ar livre, à sobra de grandes árvores e o público em volta. E Brasília tem essas grandes áreas livres, como o Parque da Cidade, também”.

Na foto, o grupo Choro no Eixo, que se apresenta todos os domingos no “Eixão do Lazer”, tradicional espaço de ocupação pública para lazer.

“Essa nova geração trocou a noite pelo dia. A música das noites brasilienses do meu tempo ganhou o dia, também”,reforça, Angela Regina.

Cor da pele

“Como eu sou negra, negrona, sou grande, me rotulam, acham que tenho vozeirão e determinam o tipo de repertório que devo cantar. Mas quando me ouvem não era o que esperavam, mas acabam aplaudindo”.

“É preciso entender que a gente não escolhe repertório pela cor da pele, mas pela sensibilidade e identidade com a música”

Piano, baixo e bateria

Angela era apaixonada por LP (Long Play, como se chamavam os discos, antes da modernidade de agora). Gostava de comprar sempre que surgia uma novidade, mas era um de cada vez, devido o custo desse produto. Seu tio, Celso, também músico, incentivava o gosto da garota e, vez por outra, a presenteava com um novo LP.

Certa vez, Angela Regina estava na discoteca com um LP na mão e se deliciava com o que via. Era um disco de Leila Pinheiro, cantando o repertório que era do seu gosto, com “Besame”, inclusive.

“A orquestra já nos chamou
Abri meu coração
Tremeu o chão
Eu vi que era feliz
À luz de um cabaré”

……

Porém, era próximo do fim do mês, o dinheiro estava escasso. Era preciso aguardar o pagamento para a nova compra. Havia dúvidas, porém, se que aquele LP, exatamente aquele, ainda estaria disponível na loja algum tempo depois. Arrojada, ela não teve dúvidas: disfarçadamente, colocou o disco no meio de outros, popularescos, onde havia a esperança de que ninguém o acharia ali. No alvo! Mês seguinte, dinheiro na bolsa, ela voltou à discoteca e procurou a sua preciosidade justamente onde havia deixado. E o LP que estava lá. Naquele dia, Angela Regina voltou pra casa ainda mais feliz…

Na Avenida

Angela Regina confessa que carrega duas escolas de samba no coração. A primeira que ela pisou, a Vila Isabel, quando tinha 20 anos. “Sou fiel, até hoje”, confessa. A segunda é o Salgueiro. Meu pai era Portela, mas nunca me influenciou. Meu Tio Celso, o mesmo que comprava os discos que eu gostava, era Salgueiro, tínhamos afinidade. Ele me falava o nome do pessoal da Escola, me contava detalhes da bateria …”

Enfim…

“Eu cantei em poucos lugares porque era cantora fixa: Odara, Chorão, Amigos, Degraus, Feitiço Mineiro… cantei muitos anos, várias vezes na semana na mesma casa. Depois, comecei a trabalhar fora, não aguentava mais a noite, era puxado! Dois turnos me cansavam e foi assim que em 1985 fui desacelerando…

                                                                                  Que pena!!!

Muito obrigado, Angela Regina

Tantos anos depois fora de cena, Angela Regina guarda a mesma disposição para conversar sobre música e sobre aqueles bons tempos de rondas de bar em bar, de boate em boate. Guarda, sobretudo, a gargalhada frequente e gostosa dessa carioca que se expressa muito bem e, melhor, cantando. “Verde”, uma de suas músicas preferidas, sintetiza um pouco de Angela Regina:

Quem pergunta por mim
Já deve saber
Do riso no fim
De tanto sofrer
Que eu não desisti
Das minhas bandeiras
Caminho, trincheiras, da noite…

Angela tem um belo astral e a sua gargalhada incentiva seguir perguntando…  Ela não conseguiu se indignar nem com a surpresa de o repórter ter chegado para esta conversa uma semana antes do combinado!!! Ela apenas falou: “Mas não era na próxima sexta-feira”?

Angela é assim mesmo. Largou seu compromisso e foi nos atender. Não é para maravilhar tanta delicadeza e atenção?

 

Obrigado, Angela Regina da Silva pela maravilhosa conversa de duas horas.

Seria demais pedir um novo encontro, dessa vez com Alex, teu irmão, ao violão, para te ouvirmos mais uma vez?

Prometemos não fazer perguntas e vamos chegar no dia e horário combinados…