Por José Ricardo Almeida
Axel van der Broocke nasceu em Brás de Pina, no Rio de Janeiro (RJ), em 24 de dezembro de 1946. Transferiu-se para Brasília em 1962, quando seu pai Hiel veio assumir o cargo de médico no Hospital de Base.
Morando na Asa Norte, o menino de 16 anos não podia ouvir falar que haveria uma pelada que se dirigia até o local para correr atrás da bola. Até no Gama chegou a ir para participar de um rachão entre quadras.
Um dia jogando no campinho próximo ao seu bloco, o Sr. Rogê viu algumas qualidades técnicas no garoto e o incentivou a procurar o Defelê, na Vila Planalto, e lá foi Axel a pé até chegar ao local sugerido.
Meio inibido, não foi bem no treino e o técnico das categorias de base, Antônio Gomes, educadamente, pediu para Axel voltar no “próximo ano”. Foi quando surgiram os jogadores Nilo e Alonso Capella, que, da arquibancada, assistindo ao treino, viram que ele não tinha demonstrado tudo o que sabia e pediram para se reapresentar no dia seguinte. Sorte dele e sorte do futebol de Brasília, pois, em sua segunda chance, Axel não decepcionou e acabou se integrando ao grupo.
Sua participação foi ativa no vice-campeonato do Torneio Início do campeonato brasiliense da categoria juvenil de 1962 e no título da competição juvenil de 1963.
Os anos de 1964 e 1965, ainda foram passados nos juvenis do Defelê. Mas também foram anos de preocupação com os estudos. Em 1965, quando o Defelê tentava montar uma equipe mesclando jogadores experientes com os que vinham das categorias de base, o técnico Didi de Carvalho, teve à sua disposição Axel, Otávio, Passo Preto, Solon e muitos outros excelentes jogadores e que poderiam ser aproveitados no time principal, mas acontece que a maioria tinha de atender os estudos em primeiro lugar.
O Torneio Início de juvenis realizado no dia 12 de setembro de 1965, no campo do Defelê, foi levantado de maneira brilhante pela representação do Defelê, que na partida final superou na cobrança de pênaltis ao Rabello após a terceira série.
O encontro terminou no tempo regulamentar de 30 minutos com empate em dois tentos. A decisão por penalidades máximas foi sensacional, cobrando Moacyr para o Rabello e Axel para o Defelê. Na primeira série ambos os cobradores perderam uma chance. Na segunda série, tanto Axel como Moacyr converteram as três oportunidades. Finalmente, na série decisiva, Moacyr perdeu duas oportunidades, para a seguir Axel fazer dois tentos, suficientes para dar o título de campeão ao Defelê.
A partir do momento que prestou vestibular e tornou-se aluno da Universidade de Brasília – UnB, passou a conviver com sua outra grande paixão: o futebol de salão.
Em março de 1966 foi convocado para defender a Seleção de Brasília no Campeonato Brasileiro Universitário de Futebol de Salão, em Fortaleza (CE). Mesmo sem Brasília ter chegado bem na competição (7º lugar), a Comissão Técnica da CBDU premiou os jogadores Axel e Guairacá, incluindo-os na seleção do campeonato.
Ainda em 1966, Axel encontrou tempo para disputar o Campeonato do Departamento Autônomo, pela equipe da Associação dos Economiários de Brasília – AEB e participou de amistosos defendendo a equipe da Universidade de Brasília, onde era aluno de Jornalismo.
No final de 1966 foi convocado para defender a Seleção de Brasília nas eliminatórias pela disputa da vaga de representante da Região Centro-Oeste do V Campeonato Brasileiro de Futebol Amador (para jogadores de até 21 anos). O Grupo III teve como sede Brasília, com jogos realizados de 15 de janeiro a 2 de fevereiro de 1967, e teve como participantes, além da seleção de Brasília, representações do Estado do Rio, Goiás e Guaporé.
Axel chegou a marcar o gol de empate com Goiás, em 1 x 1, no dia 22 de janeiro de 1967, mas a vaga ficou com a seleção fluminense.
Comentário da coluna Bate Bola, de Sérgio Leal, de 5 de janeiro de 1967, a respeito dos treinamentos da seleção brasiliense: “Na meia cancha, Axel deu muita movimentação ao quadro. Acredito que possa fazer melhor figura ainda com Dazinho. Axel-Dazinho, me parece, superior a Axel-Luizinho, ainda que este tenha valor”.
Quando todos achavam que Axel fosse ficar no Defelê, chegando, inclusive, a iniciar treinamentos nesse clube, no dia 20 de fevereiro de 1967, Axel assinou contrato com o Guará.
Quase ao mesmo tempo, Axel foi um dos convocados para defender a seleção da UnB nos primeiros Grandes Jogos Abertos de Belo Horizonte.
Em maio de 1967 teve início o campeonato de futebol do Clube do Congresso e defendendo as cores da equipe “Tiradentes” lá estava Axel.
Sua primeira partida oficial no Guará aconteceu em 20 de julho de 1967, no Estádio de Brasília (que viria depois a ser chamado de Pelezão), com derrota de 2 x 1 para o Colombo. A equipe do Guará era muito jovem, com vários elementos da seleção juvenil de Brasília e não fez uma boa campanha, terminando em último lugar no campeonato brasiliense de 1967.
No ano de 1968 disputou todos os jogos do campeonato brasiliense com a camisa do Guará, que chegou na terceira colocação.
Fora dos gramados, em março de 1968, a Prefeitura do Distrito Federal assinou ato designando Axel para Chefe do Arquivo Técnico do Serviço de Cadastro.
Também em 1968 Axel esteve acompanhando a delegação de futebol de salão da Universidade de Brasília numa competição realizada em São José dos Campos (SP) e na qual ficou em segundo lugar.
No dia 18 de junho de 1968, o Guará recebeu o Flamengo, do Rio de Janeiro para um amistoso, quando foi derrotado por 2 x 0. Axel era o capitão da equipe e teve a honra de trocar com o capitão do rubro-negro carioca as flâmulas dos clubes. Ninguém entendeu nada quando Axel se dirigiu até o alambrado do estádio para entregar o estandarte do Flamengo à sua namorada, Marli.
Uma semana depois do jogo contra o Flamengo, o jornal Correio Braziliense destacava em sua edição de 25 de junho de 1968: “Axel será observado por olheiro do Flamengo no amistoso contra o Rabello”.
Na verdade, Axel recebeu convite do presidente do Flamengo, Aristóbulo Mesquita, para ir jogar no clube carioca, mas apesar da permissão dos pais para decidir, preferiu recusar o convite.
No dia 10 de julho de 1968, aconteceu a Assembleia da Federação Desportiva de Brasília que decidiu pela organização de uma seleção profissional de futebol em caráter permanente. Axel foi um dos jogadores convocados.
Logo depois, a Federação decidiu que a Seleção Permanente iria vestir a camisa do Rabello e representá-la na Taça Brasil. Na primeira fase, o Rabello fez parte do Grupo 1 da Zona Central, juntamente com Operário, de Várzea Grande (Mato Grosso) e Atlético Goianiense, de Goiânia (GO).
Pouco antes de estrear na Taça Brasil, ainda em julho de 1968, Axel e a seleção de Brasília ficaram com o vice-campeonato nos XIX Jogos Universitários Brasileiros promovidos pela Confederação Brasileira de Desportos Universitários, em Salvador. Na partida decisiva, Brasília perdeu para o RS por 5 x 3, tendo Axel anotado todos os tentos da seleção brasiliense.
Assim que foi dispensado da seleção brasiliense permanente, Axel passou a disputar o campeonato brasiliense de futebol de salão pela equipe da Universidade de Brasília. Na decisão do campeonato, contra a equipe da Bi-Ba-Bô, a UnB venceu por 6 x 0, com dois gols de Axel.
Em dezembro de 1968, quando foi escolhida a “seleção do ano” do campeonato brasiliense de futebol de salão, Axel era um dos componentes dessa equipe.
Aproveitando-se do fato de o ano de 1969 ser um dos mais bagunçados da história do futebol brasiliense (fim do profissionalismo, principalmente), Axel afastou-se do futebol de campo, quase voltou a jogar no Guará e disputou alguns amistosos pela equipe da Universidade de Brasília, o CSU.
No dia 1º de maio de 1969, em comemoração ao Dia do Trabalho, Axel fez o juramento do atleta após o Delegado Regional do SESI declarar abertos os jogos.
O restante do ano foi totalmente dedicado ao futebol de salão, tendo disputado o JUBs em Goiânia, consagrando-se bicampeão brasiliense pela UnB e disputando várias outras competições amistosas de futebol de salão por todo o Brasil.
A. A. Serviço Gráfico
Ainda teve rápidas passagens pelo Defelê (nos seus extertores), em 1970, na A. A. Serviço Gráfico, de 1971 a 1973 (quando sagrou-se campeão brasiliense amador do DF em 1972) e A. A. Relações Exteriores, também em 1973, sua última participação no futebol brasiliense.
Foi convocado três vezes para defender a Seleção do DF, nos anos de 1967 e 1968.
No futebol de salão foi decacampeão de Brasília pela UnB e uma vez campeão pelo Minas Brasília Tênis Clube. O time formado por Valtinho, Axel, Guairacá, Otávio e Arnaldo é considerado por muitos que acompanham o esporte como o maior da história do salonismo brasiliense.
Atuou também no time de futebol de areia da ARUC. Foi campeão por diversas vezes do Torneio Aberto de futsal da ARUC atuando pelo Carioca.
Bacharel em Comunicação Social/Jornalismo pela UnB, Axel acabou seguindo a carreira de Auditor da Receita do Distrito Federal, onde se aposentou em 1997.
É casado há mais de 40 anos com Marli, a moça que recebeu e guardou a flâmula do Flamengo até hoje.
Fonte: Almanaque do Futebol Brasiliense
Sobre o autor
José Ricardo Almeida
Maior historiador do futebol de campo em Brasília.