2 de dezembro de 2024
Jorge Ferreira, dono do Feitiço Mineiro

Jorge Ferreira e seu feitiço mineiro

O tempo passa, mas a saudade não. Já faz 9 anos que Jorge Ferreira nos deixou. De repente. Sem avisar. E pegou todos nós de surpresa.

Mineiro de Cruzília, professor, sindicalista, agitador cultural, torcedor roxo do América de Minas, poeta, contador de “causos”, apaixonado por música e gastronomia, Jorjão, como era conhecido, é um pedaço importante da alma dessa cidade.

Empresário bem sucedido, participou de 12 bares da cidade, todos eles, à sua maneira, lendários. O mais famoso, sem dúvida alguma, foi o Feitiço Mineiro, que virou uma referência na cena cultural da cidade.

Nos seus 32 anos de existência, no Feitiço foram realizados mais de dez mil shows de uma grande constelação da música brasileira e da fina flor musical da cidade. Pelo seu pequeno charmoso palco, passaram nomes como Beto Guedes, Dércio Marques, Xangai, Noca da Portela, Baden Powell, Dona Yvone Lara, Paulinho Pedra Azul, Tereza Cristina, Nelson Sargento, Monarco, Jair do Cavaquinho, Moacyr Luz, Tia Surica, Elton Medeiros, Naná Vasconcelos, Jards Macalé, Zé Mulato e Cassiano e muitos, mas muitos e muitos outros.

Foi no Feitiço Mineiro que Baden Powell fez sua última apresentação em Brasília pouco antes de morrer, em 2000. Por aquele palco passaram grandes mestres do samba, praticamente todos os integrantes do Clube da Esquina e nomes de destaque da MPB.

Foi ali, também, que surgiu o projeto Gente do Samba, do qual tive a honra de ser um dos idealizadores, junto com Jorge, com a participação de bambas como Monarco, Elton Medeiros, Nelson Sargento, Noca da Portela, Walter Alfaiate, Délcio Carvalho, Guiherme de Brito, Almir Guineto, Tia Surica, Jair do Cavaquinho, Nei Lopes, Dona Ivone Lara, Diogo Nogueira, Mart´nália, Teresa Cristina e os grupos Semente, Casuarina e Sururu na Roda, entre outros.

Além dos shows, o Feitiço foi palco de inúmeros lançamentos de livros e de saraus e pelas suas mesas passaram importantes nomes da cultura brasileira, como Ziraldo. Além de editar vários números da Tira Prosa, uma revista cultural que marcou época na cidade.

Mas o Feitiço era também um importante polo gastronômico, especialmente da culinária mineira, com destaque para a feijoada e para o melhor ovo frito que já comi na vida.

O Feitiço conseguiu resistir à morte do Jorge Ferreira, a alma do boteco, em 2013. Durou ainda sete bons anos. Em 2020, a pandemia, no entanto, foi devastadora, e o icônico bar da quadra 306 Norte não aguentou e fechou suas portas.

O Feitiço manteve-se aberto até 19 de março de 2020, quando, em função da covid-19, interrompeu as atividades. A tentativa de voltar a funcionar, para atendimento no sistema de delivery, entre abril e julho, não obteve o resultado desejado.

Meses depois, no entanto, Jerson Alvin, que durante muitos anos foi produtor musical do Feitiço, reabriu as portas, com o nome de Feitiço das Artes, mantendo viva um pedaço daquele espaço sagrado da cultura brasiliense.

 

Sobre o autor

Moacyr Oliveira Filho

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