Por Hélio Tremendani
A história dos desfiles de escolas de samba em Brasília e, claro, a disputa entre as agremiações, começa em 1962. Naquele ano, quando a nossa Capital tinha apenas dois anos de fundada, a grande favorita era a Alvorada em Ritmo, criada pelos moradores das quadras 409/410 Sul. A maioria de seus componentes era de funcionários públicos transferidos do Rio de Janeiro, que trouxeram da terra Carioca o gosto pelo samba e a boa batida das baterias carnavalescas.
Naquele desfile que marcava o início do Carnaval candango, as outras concorrentes eram a Boêmios da Asa Sul, Independente de Brasília e Aruc, popularmente conhecida por Unidos do Cruzeiro do Bairro do Gavião, como a nossa região era conhecida à época. E foi a conquistou o seu primeiro campeonato.
O desfile foi na Plataforma Superior da Rodoviária do Plano Piloto e a Alvorada em Ritmo sagrou-se campeã, repetindo o título nos dois anos seguintes, conquistando assim o tricampeonato. Porém, em 1965, a Aruc foi a grande campeã, ganhou o seu primeiro título e quebrando a hegemonia da concorrente.
Foi nessa época que surgiu o personagem principal desta história, o passista Murilo. Ele passou a frequentar os ensaios da Aruc e sempre dava um show nos ensaios que eram realizados na antiga Quadra 19. Justamente nessa quadra morava o Luís Cabide, que era o ritmista da Unidos do Cruzeiro.
Num desses ensaios, Murilo foi convidado a desfilar na Aruc. Prontamente ele aceitou e a comunidade vibrou com a notícia. Já próximo do desfile, a diretoria encomendou uma fantasia digna do Carnaval do Rio de Janeiro. Porém, na hora do nosso desfile o Murilo apareceu com a fantasia vermelha e branco, cores da Alvorada em Ritmo, contrastando com a azul e branco, consagrada pela Aruc. A decepção foi geral, claro, mas a ordem foi manter a calma, pois a Aruc estava muito bonita e tinha chances de vencer o desfile.

Presidente: Otacilio Tudinho dos santos
Enredo: Impressão Régia
Local de desfile: Plataforma Superior da Estação Rodoviaria.
Classificação; Campeã
Na foto: Vardo, Luisinho, Nelson, Altamiro, Amauri, Sergio Barriguinha
Foto cedida por Nelson da 18
No dia da apuração o bairro Cruzeiro parou para ouvir a Radio Nacional, que transmitia a apuração. Não deu outra, Aruc campeã, conquistando o seu primeiro título. Os componentes da Escola foram para a quadra improvisada da Unidos do Cruzeiro comemorar. Nesse momento, surgiu o passista Murilo, que levou uma surra que ficou lhe doendo por muito tempo. Pior! Tiraram a roupa do Murilo e largaram ele peladão pelas ruas do Cruzeiro. Sorte que no caminho surgiu o Seu Sabino Alexandre Salles, conselheiro da Aruc, que conseguiu acalmar os ânimos. Ele providenciou um short para o Murilo, sob os protestos dos filhos, Tota, Maquinha e Gilson.
No dia seguinte, era só se falava nisso nas ruas do Bairro do Gavião. Depois da surra e do desfile pelado, Murilo desapareceu, a sua escola de origem, a Alvorada e Ritmo acabou e a Aruc conquistou vários títulos, deixando a sua marca: “Com cruzeirense não se brinca”.
A minha geração nunca gostou de ver nossos componentes desfilando em outras escolas; a minha geração, que começa em abril de 1974, jamais admitiu usar outra cor que não fosse o azul e branco da Aruc. E estamos conversados, Carnaval é festa popular mas é preciso respeito entre foliões e agremiações.
Memórias da Cultura e do Esporte de Brasília