4 de dezembro de 2025

Armação no Futebol de salão já existia há cinquenta anos

Por Hélio Tremendani

O esporte é farto em folclore. Outro tanto de fakes. Mas há fatos reais inacreditáveis que própria imprensa – ainda bem – contribui para confirmar que, de fato, aconteceu. O que passo a narrar é um desses caos e por suas características merece entrar para a memória do esporte brasiliense.

A armação de resultado, hoje em dia tão questionada nas apostas esportivas, até com inquéritos policiais, já existia em 1975, ou seja, há meio século…

Foi em 1975, na cidade de Sete Lagoas, em Minas, Gerais, que se realizava o campeonato Zonal da Taça Brasil de futebol de salão. No jogo preliminar, a equipe do Distrito Federal venceu Mato Grosso por 3×0, com gols de Axel, Galdino e Arnaldo, e estava praticamente classificada para a fase seguinte, independentemente da vitória do time de Minas Gerais ou da Guanabara. O único resultado que eliminaria Brasília seria o empate e é aí que entra a armação.  A foto, do jornal “A Notícia”, de Sete Lagoas, registrou a indignação dos torcedores.

Conforme registros da imprensa, no dia seguinte, os dirigentes das duas equipes, Guanabara e Minas Gerais, combinaram empatar, justamente para eliminar o Distrito Federal.

O jogo foi realizado no ginásio Márcio Paulino, lotadíssimo, com mais de três mil torcedores. Quando o jogo se encaminhava para o final, as torcidas, já sabendo da armação, começaram a vaiar os jogadores insistentemente, ameaçando invadir a quadra, um tumulto que durou por mais de dez minutos.

A situação se agravou quando o público começou a jogar pedaços de madeira e outros objetos em direção aos jogadores. Nem a arbitragem escapou da revolta dos torcedores. Segundo a imprensa local, até cusparada serviu de arma para demonstrar a revolta diante daquela atitude antiética.

Enfim, nada disso adiantou. O jogo foi encerrado e com o 0x0 no placar a equipe do Distrito Federal foi mesmo eliminada, numa triste armação que entrou para a história dos fatos negativos do esporte

Waldemar Francisco de Almeida era um dos dirigentes da delegação do DF. Segundo ele as direções das duas seleções fizeram mesmo o pacto de empate para eliminar Brasília.

Tudo isso foi acompanhado pela delegação de Brasília nas laterais da quadra. Indignados, os jogadores também acompanharam os torcedores nas vaias e acabam expulsos da área de jogo. Tenente Waldemar, outro dirigente do Distrito Federal, declarou na ocasião que relataria a armação ao então ministro da Educação, Ney Braga. Era tempo da ditadura e o esporte estava intimamente vinculado aos órgãos oficiais de governo.

Porém, o tempo foi passando e a marmelada em quadra foi consumada, com a eliminação do Distrito Federal da competição em Sete Lagoas.

Galdino Neto (foto), há muito aposentado das quadras, estava naquele jogo. Ele era um dos jogadores da equipe e confirmou a armação assim como o tumulto provocado pelos torcedores revoltados.

Galdino, inclusive, jogou ao lado de verdadeiros craques que ajudaram a construir a história do futebol de salão em Brasília. Ele jogou no time da FAUnB que tinha Waltinho, Axel e Arnaldo. Otávio e Guairacá. “Tive a honra de jogar com Axel e Guairacá, para mim os melhores jogadores que vi atuar no Distrito Federal”, afirmou. Arnaldo Gomes, outro craque, lamentavelmente nos deixou recentemente.

As reportagens com Galdino Neto, Arnaldo Gomes, Guairacá e Axel estão no site da Memória da Cultura e do Esporte em Brasília, no seguinte link:

https://memoriadaculturaesportebsb.com.br/index.php/2024/09/29/memorias-de-um-craque-da-elite-do-futebol-de-salao/

 Pesquisa: Helio Tremendani

Foto do Jornal A Noticia.