12 de agosto de 2025

Dhi Ribeiro faz homenagem a Júnior do Cavaco, o Poeta do Samba

Por Hélio Tremendani

No festivo e musical encerramento da Oficina de Fantasia e Adereços, no último sábado (5 de julho), na Aruc, o espetáculo final foi de nossa querida Dhi Ribeiro, com repertório de primeira e aplausos merecidos. Show encerrado, ela se preparava para sair, mas retornou ao palco e pediu “um minuto de atenção”, no que foi atendida, claro.

E, numa maravilhosa lembrança, ela disse que faria uma homenagem a um grande amigo, o sambista Júnior do Cavaco (foto), que os deixou no final dos anos 1980. A emoção foi espontânea, confesso que arrepiei. Convivi com essa grande sambista, amigo e compositor, autor de “De mim pra você”, que ela interpretou na hora.

As origens

Conheci Júnior do Cavaco quando eu estudava com o pai dele, Seu Remédios. Estávamos no turno noturno do Ginásio do Cruzeiro. Em meados dos anos 80, Júnior já dava seus primeiros acordes no cavaco e encantava a quem o ouvia. A partir dali criamos uma relação de amizade muito forte porque Seu Remédios também participava da Ala de Compositores da ARUC.

Sem favor algum, Júnior do Cavaco foi o maior compositor de samba de Brasília. Era um cara simples, humilde, até. Ele sempre me ligava para mostrar um samba novo e me pedir opinião sobre suas composições.

Na madrugada

Enquanto Dhi Ribeiro cantava, lembrei da noite em eu estava lendo o livro da época, o romance “Cem anos de solidão”, de Gabriel Garcia Márquez, que narra em torno da família do coronel Aureliano Buendía. Já era madrugada. Atendi o telefone e do outro lado era Júnior do Cavaco. Ele me falou sobre a sua mais recente composição, com Evandro Barcelos, de “Mim pra Você”, leu a letra e cantou. Não havia o que opinar, apenas aplaudir mais aquela bela criação do Amigo. Conversa encerrada, fui dormir pensando como é bonita a arte de um comositor ou compositora que busca inspiração para fazer versos e melodias bonitas.

Essa música – “De mim pra você” – acabou sendo gravada pelo grupo Negritude Júnior, assim como outra, “Indefinições”, pelo grupo Coisa Nossa. Ambas se tornaram grande sucesso, nao apenas em Brasília mas no Brasil todo.

Dificilmente alguém que ouve “De mim pra você” e conheceu Júnior não se emociona com suas letras fortes.

E ali ficamos, ao telefone, conversando, ouvindo a composição, trocando ideias por alguns instantes da madrugada que não esqueço. Quem sabe, naquele momento Júnior estivesse vivendo um grande amor, pela vida, é possível, pois a alegria, o sorriso e a batida musical eram seus parceiros. Escreveu, logo no primeiro verso de “De mim pra você”:

Se você me diz que amar
Já não faz mais sentido
Eu digo a você que o amor
Tem nos mantido vivos

Infelizmente, Júnior faleceu no início dos anos 1990 em um acidente de carro. Ele havia terminado o trabalho no Correio Braziliense, onde era diagramador do jornal, e saiu para casa. Numa determinada manobra para sair do Eixinho Sul o carro virou e capotou. E lá se foi o nosso grande músico. A cidade amanheceu pouco tempo depois com a notícia de que Júnior do Cavaco havia nos deixado.

Júnior deixou um grande vazio no samba de Brasília e até mesmo do Brasil, pois já ocupava espaço com grandes grupos do pagode e cada vez mais melhorava não só as suas composições como também se aperfeiçoava tocando cavaco.

A homenagem de Dhy Ribeiro a Júnior do Cavaco, assim como esta que faço pra recuperar a lembrança desse Amigo se estende a toda uma geração de pagodeiros de Brasília, com a qual ele tinha afinidade e parceria com muitos.

Na memória

Há pouco tempo, ao falar sobre esse episódio com o amigo e jornalista José Cruz, ele me disse que trabalhou com Júnior do Cavaco no Correio Braziliense. Muitas vezes, “fechou” páginas do jornal com ele diagramando (desenhando) a página, distribuindo fotos e reportagens, um trabalho artístico que também exige talento do diagramador.

Cruz me disse mais, que Júnior era um companheiro alegre e não raramente cantarolava baixinho e fazia pequenas batidas na mesa de trabalho, enquanto ia desenhando mais uma edição do jornal do dia seguinte. Não lembra que músicas eram. Afinal, lá se vão quarenta e tantos anos… Mas, quem sabe numa dessas não estava ensaiando mais uma obra prima, como “De mim pra você”. Quem sabe, né?

Grande Júnior do Cavaco… Deixou saudade, Amigo, e um vazio muito grande na escola de compositores brasilienses e brasileiros e a batida de seu cavaquinho