25 de julho de 2025

APRENDIZADO NA CADÊNCIA DO SAMBA

Oficina de Fantasias e Adereços – Da esquerda para a direita: Renata Calazans, Alessandra Vieira, Kátia Miranda, os três instrutores, José Antônio, Flávio Nogueira e Levi Cintra, Camila Aidoan, Sérgio Souza e Ana Clara Faustino

   

Com aulas diárias durante duas semanas, Levi, Flávio e Zé Antônio preparam uma nova geração de carnavalescos e incentivam que as escolas de samba locais tenham a sua própria produção, o que motiva uma farta oferta de mão de obra em 51 categorias profissionais e geração de uma valorizada economia na área da cultura e do lazer.

Na música “Feitio de Oração” o genial Noel Rosa escreveu, lá no distante ano de 1933:

“Batuque é um privilégio,
Ninguém aprende samba no colégio…”

O tempo passou, o samba evoluiu, ganhou embalos e cores no Carnaval. Hoje,aprende-se muito nessa atividade que até já teve uma “Universidade do Carnaval”.

Mercado de trabalho

Essa combinação de samba e carnaval fez surgir uma fenomenal indústria, que se renova todo mês de fevereiro, cada vez mais fortalecida e oferecendo ocupações para até 51 categorias profissionais. São aderecistas, carpinteiros, soldadores, carnavalescos, figurinistas, eletricistas,  costureiras, historiadores, maquiadores, costureiras, técnicos de som, escultores em isopor ou gesso, diretores de barracões, enfim…

No embalo do samba, a indústria carnavalesca pede passagem

É para ensinar e difundir a cultura carnavalesca apesar do recesso dos desfiles já durar 13 anos, em Brasília – que a ARUC recebe aOficina de Fantasias e Adereços, com atividades diárias até o próximo sábado, 5 de julho. Tudo pensando na formação de novos carnavalescos e nos desfiles das escolas de samba no Carnaval de 2026, quando deverá retornar às ruas, quem sabe numa nova passarela, a Esplanada dos Ministérios, segundo Hélio Tremendani, da Aruc, em contato com as autoridades do governo de Brasília.

Aulas

As aulas, desde abril, são gratuitas aos integrantes de todas as escolas de samba da cidade ou interessados emCarnaval. Os ensinamentos são de técnicas de passistas, bateria, confecção de fantasias e adereços e o embalo para mestres-salas e porta-bandeiras (foto). Tudo complementado com palestras e workshops. A Oficina é realizada pelo Instituto Latinoamerica, com o Ministério da Cultura, apoio da ARUC e Sindicato dos Bancários e recursos de emenda orçamentária da deputada Érica Kokay.
“As oficinas são oportunidades para que a nova geração do sambaapareça e se revele”, disse a Paula Mello, gaúcha que mora há 28 anos em Brasília. Com o marido, o jornalista e produtor cultural Atanagildo Brandolt, ela dirige o Instituto Latinoamérica, promotor de eventos em geral.

De Taguatinga

Kátia Miranda (foto ao lado), que por oito anos foi Rainha da Bateria da Águia Imperial, da Ceilândia, e tem um ateliê em Taguatinga, com sua sócia, Rosângela da Silva, declarou:

“A oficina de fantasias e adereços está ótima. Sempre se conhece algo novo. Desta vez estou aprendendo a trabalhar com estruturas com arame”, afirmou Kátia (foto).

A brasiliense Alessandra Vieira (foto), integrante do grupo Areté de Danças Brasileiras, onde faz dança cigana, ela é a Rainha de Bateria da Escola de Samba do Jardim Botânico, a mais nova agremiação carnavalesca de Brasília. “Esse curso de adereços ajuda a aprimorar os conhecimentos sobre o Carnaval”, afirmou.
Renata Calazans participa pela segunda vez da Oficina. A primeira foi em 2010, com o mesmo grupo de instrutores. “Trabalho na administração do Hospital de Base. De lá venho para a Aruc, onde aprendo e relaxo. Confeccionar fantasias e adereços é uma terapia”, afirmou Renata.

Mestres do Carnaval

Na Comissão de Frente das Oficinas estão três feras do carnaval carioca, Levi Cintra, Flávio Nogueira e José Antônio Rodrigues.

O trio, que integra a Comissão Julgadora dos desfiles na Marquês de Sapucaí, tem histórias e cultura carnavalesca de sobra. Eles são premiadosnos carnavais do Rio de Janeiro e nos de Vitória (ES), onde também participam como jurados. Levi, Flávio e José Antônio já estiveram aqui em 2010 e 2014 com o mesmo objetivo, ensinar e divulgar a arte carnavalesca.

Flávio Nogueira lembra que as oficinas são, também, um incentivo para que as necessidades de fantasias e adereços das escolas locai, aqui sejam produzidas. “Com isso, cria-se uma cultura local eoferta de mão de obra, tudo adaptado à realidade de cada escola e à cultura dacidade”
Gabriela Lima (de casaco branco), Rainha da Aruc em 2023, prestigiando as Oficinas formadoras de novas carnavalescas e carnavalescos

Flávio garante que além do aprendizado, as oficinas são terapias para os alunos. E relata o caso de uma aluna que saiu estressada do trabalho e veio direto para a oficina. “Aqui, adereçando, ela relaxou”, garante ele. Carnavalescos profissionais, eles não falam sobre a escola de suas preferências. É da regra, pois como integrantes da Comissão Julgadora do Carnaval carioca, precisam ficar no anonimato desse quesito para evitar qualquer tipo de influência ou suspeita nos seus trabalhos de observadores isentos.

Reconhecimento

Foi nesse time de artistas que surgiu a ideia de valorização o trabalhador do Carnaval, criando o projeto “Plumas e Paetês”, que este ano chegou à sua 20ª edição.

“Há uma enorme equipe de trabalhadores anônimos em cada escola de samba, invisíveis para o público que assiste aos desfiles”, disse José Antônio, referindo-se a toda cadeia que produz para que uma agremiação desfile na Marquês de Sapucaí, peças fundamentais de uma grande engrenagem que é o desfile carnavalesco.

Segundo José Antônio, “a premiação e a divulgação do trabalho desses profissionais geram um sentimento de valorização e reconhecimento”, tirando os artistas do anonimato.

Exemplo

É nesse contexto que a Rainha da Bateria da Aruc, Verônica Nuñes Amaral(foto), entra no aprendizado da Oficina de Adereços. Ela é uma artista e professora de samba com trajetória também na dança do ventre. “Quero aprender para ser uma artista completa. Sempre fui curiosa por esses bastidores. Assim, aprendendo, vive-se um universo mais profundo do samba”, afirmou.

Ensinamento

Neide de Paula, uma das Mulatas de Sargentelli nos anos 1960, tempo do “Ziriguidum”, foi uma das palestrantes da Oficina para passistas. “Na saída, uma menina com sotaque diferente se aproximou para conversar. Era uma francesa, que viu a notícia sobre a Oficina e veio “aprender”, disse Hélio Tremendani. “Sou da França, vi nas redes que tinha um curso de passista e vim aprender para levar para o meu país um pouco da cultura daqui”, afirmou.

Paula Mello, do Instituto Latinoamerica e Hélio Tremendani, da ARUC, parceiros de um projeto que busca valorizar a cultura carnavalesca no Distrito Federal, através do aprendizado da produção artísticas e da arte dos passos do brasileiríssimo samba

Produções artísticas-carnavalescas produzidas pelos alunos, durante a Oficina de Fantasias e Adereços