11 de junho de 2025

Quando eu penso no futuro, não esqueço o meu passado

Moacyr de Oliveira Filho (*)

Aproveitando o lançamento do meu livro na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, no dia 26 de maio, consegui resgatar uma preciosidade nos arquivos da entidade: o registro funcional de um certo Hildemar Diniz, que foi office boy da ABI, em 1947, aos 16 anos de idade, ganhando, na época, um salário de 450 cruzeiros mensais.

Para quem não sabe, Hildemar Diniz é o nome de batismo do inesquecível Mestre Monarco, da Velha Guarda da Portela, falecido em dezembro de 2021.

Monarco tinha um orgulho de ter sido office boy da ABI, visitava com frequência a sede da entidade, na Rua Araújo Porto Alegre, 71, no Centro do Rio de Janeiro, e gostava de contar que escovava a mesa de sinuca do 11º andar para o maestro Heitor Villa Lobos jogar. Reza a lenda que um dia, o presidente da ABI, na época, Herbert Moses, pegou o jovem Hildemar cantando um samba e dançando com uma vassoura, e o demitiu. Mas foi convencido a voltar atrás.

Monarco está imortalizado na sede da ABI com um desenho, de autoria do cartunista Chico Caruso, carregando um estandarte, onde se lê: Monarco saúda a imprensa escrita, falada e televisada e pede passagem.

Em 2023, no dia 17 de agosto, quando Monarco faria 90 anos, a ABI foi palco de um show histórico, em sua homenagem, que lotou o auditório do 9º andar da sede da entidade.

Organizado pelo ex-presidente da Portela e diretor cultural da Liesa e da Fenasamba, Luis Carlos Magalhães; pela pesquisadora Marília Trindade Barbosa; pela viúva de Monarco, Olinda; por mim, representando a ABI, e por um grupo de amigos do compositor portelense, o show teve a direção musical de Mauro Diniz, filho de Monarco, e Paulão 7 Cordas, e contou com a participação de vários artistas – Dunga, Nilze Carvalho, Dorina, Teresa Cristina, Mauro Diniz, Paulão 7 Cordas, Eliane Farias, Marquinhos Diniz, Marquinhos de Oswaldo Cruz, Wanderley Monteiro, Samir Trindade, Leo Russo, Tânia Machado, Ernesto Pires, Iracema Monteiro, Pedro Paulo Malta, João Diniz, Paulinha Diniz, Família Roitman, Sandro Cachaça, Filhos da Águia, Unidos do Jacarezinho e a Velha Guarda da Portela. O show foi aberto pela filha de Paulinho da Viola, Eliane Faria, que leu um depoimento de Paulinho sobre Monarco. No encerramento do show, todos os artistas subiram ao palco para cantar Coração em Desalinho, um dos grandes sucessos de Monarco, em parceria com Ratinho.

Quando mandei a foto do registro profissional de Monarco na ABI para seu filho, Mauro Diniz, ele ficou emocionado e não conteve as lágrimas.

Eu também fiquei emocionado em resgatar essa raridade. Cuidar e preservar a memória é fundamental para escrever o futuro. Como diz o samba Dança da Solidão, de Paulinho da Viola: “Quando eu penso no futuro, não esqueço o meu passado”.

(*) jornalista, diretor de Jornalismo da ABI, ex-presidente da ARUC