Por Hélio Tremendani e José Cruz
Filho de pais mineiros, Sebastião Rodrigues (foto) poderia ter sido um craque no futebol, mas “a música foi mais rápida”. Autodidata desde os 15 anos, ele evoluiu no aprendizado de guitarra e violão e, em 1967, foi convidado para integrar a Orquestra da TV Brasília. Foi assim que, com 17 anos, Tião saiu de Silvânia, interior de Goiás, onde nasceu, e veio para a ainda jovem capital da República. Na bagagem e na alma ele trouxe o espírito musical de quem ouvia rádio desde sempre e a lembrança da moda de viola que se acostumou a ouvir na região onde nasceu.
Ajudas
“Quando vim para Brasília, em 1967, eu ainda não tinha guitarra. Quem me emprestou foi um foi um amigo, César Canedo. Eu não tinha nem grana, vim com zero de dinheiro. Canedo liderava um conjunto que se chamava Esquema 5, e me deu esse apoio inicial”, recorda Tiãozinho, nome artístico que ficou.
Talento e simpatia também ajudaram para que ele prosperasse na vida artística. Assim, além da Orquestra da TV Brasília, tocou na banda Raulino e seus Big-Boys, nos primeiros tempos em que aqui estava.
Com boas ideias e outro tanto de entusiasmo Tiãozinho levou adiante o seu projeto de se tornar músico, até culminar com a criação da mais tradicional banda que por aqui surgiu “com sotaque nacional”, tudo planejado.
Tão prestigiadas e aplaudidas eram as apresentações de sua banda que ela se tornou referência musical. Tiãozinho e os outros cinco componentes do grupo ganharam notoriedade fora das fronteiras do Distrito Federal e foram convidados para históricas apresentações e entrevistas aos saudosos Jô Soares, Chico Anísio e Chacrinha.
Com vocês, a história de Tiãozinho, criador – “com orgulho” – da inesquecível Banda Squema Seis

O início
O interesse de Tiãozinho pela música surgiu ainda na infância, incentivado pelos pais que estavam ligados no que havia de melhor nas rádios brasileiras: Gilberto Alves, Ângela Maria, Orlando Silva, Francisco Petrônio, Nelson Gonçalves, Anísio Silva, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Dorival Caymmi, Lupicínio Rodrigues, Ary Barroso… e os estrangeiros, Nat King Cole e The Platers… Depois vieram Tito Madi, Johnny Alf, Tom Jobim, Rita Lee, João Gilberto com a turma da Bossa Nova e por aí vai, numa lista de estrelas do nosso cancioneiro, quer na composição de letras e ritmos quer na interpretação.
Como todo garoto, Tiãozinho até tentou no futebol jogando nas categorias de base de clubes de Goiânia, mas o som musical o cativou primeiro, de forma mais forte e definitiva.
“Quando se nasce na periferia, as chances estão voltadas para o futebol ou para a música”
Influências
“Eu tinha em casa a influência musical. Meu pai, João Antônio Rodrigues, tocava com amigos, todos ferroviários. Ele era músico amador e tinha um violão e um cavaquinho. Eu estava com seis anos, era um moleque que brincava na rua, catava garrafas, jogava bola com mais cinco irmãos, aquelas coisas de criança. Mas, sempre que podia, prestava atenção nos instrumentos, curioso que ela pelo som, em geral”.
Tiãozinho também tinha contato com a música enquanto ajudava a avó, que lavava roupas para clientes ouvindo cantores famosos nas rádios. Na época, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro lançava os sucessos em lotadíssimos programas de auditório.
Enquanto Tiãozinho crescia, chegavam as novidades e a música ia se renovando. Com os Beatles, por exemplo, ou com a música americana que ganhava espaço com Elvis Presley, Bill Halley e seus Cometas, entre outros. O rock and roll chegava provocando grande impacto nas novas gerações. Por aqui também se renovava, era tempo da Jovem Guarda, de Roberto Carlos e Erasmo; o embalo de Tim Maia, Jorge Bem, Celi Campello e tantos outros jovens cantores que surgiam.
Movimentos
Certo é que esses movimentos, daqui e do exterior, foram substituindo os estilos e atingiam, principalmente, corações enamorados. A descontração e a alegria da Jovem Guarda, a batida e o embalo da Bossa Nova e o sucesso mundial dos Beatles contrastavam com o samba-canção, balada romântica que provocava dor de cotovelo, saudades, falava de traições etc…
“Eu estava com 13, 14 anos e enquanto aprendia a tocar violão também acompanhava essa transformação de estilos. Cresci ouvindo músicas com letras trágicas (“Meu mundo caiu”, por Maysa era um clássico). A novidade que se apresentava era a moçada da Jovem Guarda e da Bossa Nova, que chegava com O Barquinho, Garota de Ipanema, Festa de Arromba… Era uma mudança de estilo muito grande. Não sei quando vai ter outro movimento desse que eu vi transformar a música”, lembra Tiãozinho, que detalha mais um pouco:
“Lembro do dia em que ouvi “Chega de Saudade”, com Tom Jobim. Era ultramoderno e ali estava a transformação de estilo musical. A gente estava acostumado com uma coisa bem quadradinha, com o samba do Ciro Monteiro, do breque de Moreira da Silva, com a Elizeth Cardoso, com a valsinha… aí criam a Bossa Nova e os Beatles. Era uma coisa diferente do chorinho e das valsinhas, que contrastava com a chegada arrasadora da Bosa Nova, dos Beatles e do Bebop, uma das correntes mais influentes do Jazz”.
Nessa onda de novidades musicais, Tiãozinho coloca uma referência. Para ele, a música brasileira divide-se em antes e depois de Pixinguinha (1897-1973), do clássico Carinhoso. “Mas, uma de suas interpretações mais brilhantes é “Rosa”, diz Tiãozinho, que cantarola um trecho: “Tu és
Divina e graciosa, estátua majestosa
Do amor, por Deus esculturada”…
“É Pixinguinha na cabeça”, resume com admiração explícita. “Ele foi pai de todo mundo! Não foi letrista, mas essencialmente um grande arranjador, instrumentista, um maestro que também deu cara ao choro, gênero raramente cantado.
Iniciação
Nessa época de transformações musicais, Tiãozinho também trabalhava em Brasília, na loja da Brasilit, engraxava sapatos e vendia doces. Isso aumentava a renda dele e reforçava o orçamento em casa.
“E quando eu podia prestava atenção vendo os outros tocando violão. Fui metendo a cara, eu era um autodidata. Criança aprende mais rápido e foi assim que aprendi a iniciação. Meu pai saía para trabalhar e quando voltava à noite eu já mostrava para ele um avanço no aprendizado”, recorda.
Primeira música
Nesse aprendizado solitário, Tiãozinho chegou à sua primeira música no violão. Foi a valsa “Se ela perguntar”, de Dilermando Reis e Jair Amorim.
“Se ela um dia, por acaso, perguntar por mim…
Diga, por favor, que eu sou feliz…”
Os consagrados Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Noel Rosa, Pixinguinha, enfim, também estavam no repertório do ainda “aprendiz” Tiãozinho.
A estreia
O tempo passava e o aprendizado crescia por interesse do jovem goiano que, nas horas vagas do trabalho, carregava instrumentos da banda Apaches, do amigo Marcos Fontenele.
Certa vez o irmão de Marcos teve uma crise de apendicite e foi parar numa cirurgia de emergência. A banda, com compromissos no final de semana, ficou desfalcada.
“Marcos ia procurar substituto e eu me ofereci, dizendo que conhecia o repertório e achava que daria conta do recado”, conta Tiãozinho. “Marcos ficou surpreso e eu tremi quando ele confirmou que eu tocaria. Fomos para um ensaio, ele solava e eu fui mostrando o que já sabia. Passei no teste do violão e chegou a vez da guitarra. Foi a primeira vez que peguei numa guitarra de forma oficial. Fiquei das 19h até a meia noite regulando o instrumento e sai do ensaio depois de ter passado o repertório inteirinho. Eu estava confirmado para tocar em três bailes, no fim de semana. Cinco horas cada um, com dois intervalos”.
Tiãozinho estreou num baile no Clube Braslipo, de Jataí, Goiás. Foi um sucesso, segundo ele. Depois, o segundo baile, em Rio Verde, clube Santa Helena, e – surpresa! – já recebendo o seu primeiro aumento salarial. O garoto mostrara que era mesmo do ramo e estava no caminho certo.
“Fiquei empolgado com aquele resultado”, conta Tiãozinho. “Os 40 dias em que toquei com o grupo me deram muita cancha, aprendi muito, porque baile é como uma clínica geral, na medicina, aparece de tudo, Bossa Nova, Samba, Bolero… E o momento era mesmo de aprendizado”…
Apoio
“Meu pai não criou caso porque comecei a faltar aos estudos para atender aos compromissos da música. Nas famílias pobres isso ocorre muito, o importante é trazer dinheiro para casa e eu começava a fazer isso. Era pouco, no início, mas ajudava. Não tinha isso de só estudar. Era preciso correr, trabalhar e ajudar família. E era o que eu estava fazendo”.
Em São Paulo
No final dos anos 1970, Tiãozinho fez uma pausa na programação de Brasília. Ele havia alcançado a “maturidade musical” e foi conhecer as novidades em São Paulo.
“Houve um tempo em que o músico tinha que ir para São Paulo viver o ambiente e conhecer as novidades que surgiam naquela capital”, conta Tiãozinho.
“Vivi uma temporada com a banda Jongo Trio reduto de grandes músicos e arranjadores brasileiros e tive convites para tocar com Roberto Carlos e Ivan Lins. Depois de um ano e meio em São Paulo e com muitas participações conclui que eu era um músico de verdade e que poderia trabalhar em nível nacional”.
Squema Seis
Quando retornou de São Paulo e já no mercado musical, Tiãozinho pode avaliar as diferenças profissionais. Por exemplo, em São Paulo ele ganhava R$ 2 mil por apresentação. Em Brasília, ganhou apenas R$ 200,00 numa apresentação na Galeria dos Estados (Setor de Diversões Sul), “para não ficar parado”.
Nesse retorno, ele participou da Superson 2000 e depois criou a banda Tom Maior, que durou um ano. Em seguida, Tiãozinho começou a “maturar a ideia” de uma banda daqui, com a cara e o jeito da gente de Brasília, algo que ele já vinha estruturando na temporada paulista.
Nessa proposta, Tiãozinho tinha algumas exigências: o novo grupo deveria ter representantes regionais de todo país; e a maioria dos integrantes, além de tocar o seu instrumento, deveria saber cantar. Na avaliação dele, Brasília, que recebia gente de todos os cantos do país, era a cidade com perfil para encontrar esse tipo de profissional, o que daria à banda uma dimensão de representatividade nacional, como havia idealizado. Conversou com outros músicos, fez pesquisas e montou o grupo.
Foi com essa filosofia que surgiu a banda Squema Seis, que ganhou prestígio até hoje reconhecido, tanto pelo entrosamento do grupo, o ritmo, o repertório e o embalo de suas alegres apresentações.
“Brasília era uma cidade jovem estava aberta para ter uma banda com esse perfil. Escolhemos seis músicos um de cada região: um carioca, um pernambucano, um baiano, um goiano, que sou eu, um paulista e um tecladista de Uruguaiana, lá do interior do Rio Grande do Sul. Tínhamos contemplado todo o Brasil e, assim, apresentamos a primeira escalação: Evaldo Robson (saxofone), Tião Rodrigues (guitarra e violão), Marcelo (teclados/vocal), Tim (contrabaixo e guitarra), Maurício (vocal) e Franka (bateria/vocal).
À época, várias bandas faziam rodízio pela cidade, como no Clube 200, por exemplo, em Taguatinga, uma espécie de discoteca, sempre muito bem frequentada. Por lá se apresentavam a Banda do Zuza, depois Banda do Sol, Paixão e Sua Banda entre outras.
“Brasília tinha ótimas bandas porque eram compostas, claro, por ótimos músicos”, diz Tiãozinho, hoje aposentado das apresentações, mas sempre valorizando os profissionais do som.
Surge a Banda
Tiãozinho era sócio da Banda Tom Maior, mas não estava satisfeito. Enquanto isso, pensava na banda que havia idealizado formar. Até o dia em que saiu da sociedade e começou a formar o novo grupo, já cumprindo a ideia de ter representantes regionais e que soubessem cantar, também.
Coincidentemente, surgiu uma festa na AABR (Associação Atlética Banco de Brasília), e Tiãozinho foi convidado para tocar, mas a nova banda que se formava ainda não tinha nome.
“O nome era fundamental, pois os organizadores da festa precisavam distribuir os cartazes anunciando a festa”, lembra Tiãozinho.
Foi quando ele lembrou que em 1967, quando chegou em Brasília, teve o apoio do amigo César Canedo, que era o dono de uma banda chamada Esquema 5. Certa noite, Abílio, que organizava a festa na AABR ligou para Tiãozinho insistindo com o nome da banda, era um ultimato. “Como éramos seis no novo grupo que se formava, falei pra que que o nome era “Skema 6, assim mesmo, com k e o número 6, que se transformaria, mais tarde, em Squema Seis”.
Na semana seguinte, o músico Clodo Ferreira (1951-2024) sugeriu que o Ítalo, dono da agência de publicidade “Oficina de Comunicação” preparasse os cartazes de divulgação do novo “conjunto” – como eram chamadas as hoje conhecidas “bandas”.
“Estávamos próximo da festa e Ítalo não aceitou”, recorda Tiãozinho, que fez uma proposta irrecusável: “Você cria os cartazes e eu retribuo na sua festa de encerramento de final do ano, sem cobrar”, sugeriu. “Ítalo aceitou na hora, o problema estava resolvido.
O fotógrafo Getúlio Romão comandou a primeira sessão de imagens com o grupo na Praça dos Três Poderes, próximo ao Supremo Tribunal Federal com a Torre de TV ao fundo. A divulgação estava encaminhada e foi um sucesso.
“O poster foi uma criação tão espetacular que não tinha nada parecido. Ítalo fugiu das criações tradicionais, das poses dos músicos sempre tão iguais. Além disso, ele trabalhou o texto de forma estilizada, um show”! – lembra Tiãozinho. E lembra também, que precisou vender o seu carro Corcel para pagar o serviço. Mas, era o lançamento da Banda, ponto de partida de um grande negócio que com o tempo se confirmou.
Prestígio palaciano
No início de carreira, a cada conjunto que integrava, na guitarra, no violão ou vocal, Tiãozinho ia formando o seu fã-clube; e se orgulha de uma performance muito especial: apresentou-se em festas palacianas de Brasília por várias gerações presidenciais, a partir do general Costa e Silva (1967 a 1969) até Dilma Rousseff (2011 a 2016).
“A primeira vez que toquei no Palácio da Alvorada, em 1969, foi com a Deodato e sua Orquestra, no aniversário de Dona Yolanda Costa e Silva, mulher do general Arthur da Costa e Silva. Ela era muito alegre, gostava de música e de dançar”, disse Tiãozinho referindo-se à primeira-dama do ditador.
Em resumo: por 49 anos Tiãozinho frequentou a agenda musical dos governos que se sucederam, desde os da ditadura até os do regime democrático, quando também colocou o Squema Seis, em especial, como referência no cenário político-musical da cidade.

Foi nesse contexto que o grupo se apresentou na visita do ex-presidente norte-americano, Ronald Reagan, em dezembro de 1982, no governo do general Figueiredo.
Contraste
Tiãozinho faz uma pausa nas narrativas dos tempos dos generais no Poder e ri muito contando sobre as atividades paralelas por ele desenvolvidas, quando era lanterninha do Cine Teatro Goiânia e fazia um “bico”, numa casa ao lado, camuflada, para assessorar reuniões escondidas do PCB – Partido Comunista do Brasil.
“Tocando nos Palácios da Alvorada e no do Planalto, eu lembrava que também atendia a um grupo de comunistas, em suas reuniões às escondidas. Eram todos do PCB, quando eu ouvia as discussões com base nas teses de Marx, Lenin e do anarquista Proudhon. Certa vez, até com a presença do então líder do partido, Luiz Carlos Prestes. Eles se reuniam numa casa ao lado de um cine-teatro onde eu era lanterninha e pude acompanhar um pouco daqueles momentos. Ou seja, tocando em festas de generais da ditadura me vinha à lembrança os discursos do pessoal do PCB, quando aprendi um pouco sobre política”.
Leituras
Nessa época, Tiãozinho também se instruía com leituras, de Khalil Gibran (autor de O Profeta), do baiano Jorge Amado, lia clássicos, como O Grande Sertão Veredas, citado pelos “camaradas” nas reuniões do PCB. “Isso me facilitou nas relações pessoais, pois eu já era um professor de violão que sabia e conhecia autores, o que me dava espaço em algumas mesas”.
Aulas
Em Brasília Tiãozinho aumentava a renda dando aulas de violão para mulheres, que queriam aprender a batida da Bossa Nova. “Eu só dava aula para mulheres. Marmanjos não! Dois maridos me descobriram ensinando as esposas e mandaram eu vazar. Saí fora logo”…
Na Torre de TV
Em 1982, no aniversário de Brasília, governo de José Ornellas, o Squema Seis foi convidado para animar uma apresentação na Torre de TV, antecedendo a apresentação de Gal Costa. Seria a sua primeira grande apresentação externa, pois até então tocava em clubes. Uma crônica publicada pelo jornalista Paulo Pestana (1958-2024), no Correio Braziliense, dizia que “Tiãozinho topou na hora. Nem discutiu o cachê. Era uma retribuição a tudo o que a cidade tinha dado ao Squema Seis”. Marcos Vinícius, assessor de Comunicação do GDF, à época, pediu que o conjunto tocasse um jingle que a agência MPM tinha feito para a cidade. Tiãozinho retrucou, dizendo que gostaria de tocar uma música de sua autoria para o aniversário, o “Canto Brasília”.
Marcos Vinicius ficou curioso e pediu para que entoasse a inédita composição. “Sem violão não dá”, disse ele. E concluiu: “Amanhã vou a Goiânia, mas na quara feira eu lhe ostro a música”, garantiu.
“Na verdade, eu queria era ganhar tempo, pois não tinha música nenhuma. Ia criar e tinha que ser rápido”, contou Tiãozinho, rindo muito.
Mas, a palavra foi cumprida. Em 24 horas ele fez a música e outro tanto foi destinado para que o poeta brasiliense, Nestor Kirschner fizesse a letra. Um sucesso! O GDF adorou a criação musical. No mesmo dia os integrantes do Squema Seis viajaram para São Paulo onde gravaram a música da festa do aniversário da cidade e retornaram à noite para Brasília, quando entregaram para o jornalista Marcos Vinícius uma fita K7 com a gravação tão esperada.
No dia seguinte, com várias cópias no bolso, Marcos Vinícius inundou as rádios de Brasília com o hino da festa. A música foi executada com tanta frequência que no dia da apresentação, na Torre de TV, 200 mil pessoas presentes (segundo o Correio Braziliense) entoaram a Canto Brasília. “A melodia era fácil e tinha um refrão forte. Foi um espetáculo inesquecível”, lembra Tiãozinho.
O atraso
Conforme o combinado, o Squema Seis aninou a festa na Torre de TV antes da apresentação de Gal Costa. Ocorre que a artista baiana atrasou e o Squema Seis deitou e rolou. Como tinha uma banda com representantes de vários estados, Tiãozinho comandou o espetáculo cantando os clássicos mais conhecidos de cada um. “O pessoal adorou. Ocorre que um popular próximo ao palco reclamou que não havíamos cantado sobre o seu estado, Piauí. Não tivemos dúvidas e sacamos um “O meu boi morreu, o que será de mim, vou buscar outro, morena, lá no Piauí”… Como a brincadeira estava boa, avançamos, enquanto Gal esperava numa barraca improvisada, embaixo do palco”, conta Tiãozinho.
“Dominamos a plateia e encerramos com Cidade Maravilhosa” e abrimos espaço para a artista da noite. Um show inesquecível”, lembra Tiãozinho. apresentação.
O final
Em 2002, Tiãozinho foi internado no hospital Santa Lúcia para tratar de uma estafa – “hoje é estresse”, diz ele. O ritmo de ensaios e apresentações era alucinante. “Houve uma época que tocamos em 228 eventos em um só ano. O cansaço era enorme e começamos a desacelerar”, recorda Tiãozinho.
A partir de então, o número de apresentações foram reduzidas, até 2004, quando a Banda Squema Seis encerrou as suas apresentações, depois de 25 anos sob o comando de seu idealizador, Tião Rodrigues.
O som do Squema Seis, criado em 29 de outubro de 1979, que tocava com embalo e alegria, ficou na saudades
Pioneiro
Tiãozinho, envolveu-se de tal forma com produção e difusão artística que o seu nome está entre os pioneiros da música de Brasília.
No seu currículo musical, constam que ele tocou em mais de duas mil formaturas, entre colégios, academias militares, faculdades e universidades; no ambiente político, tocou para todos os ocupantes do Palácio do Planalto, desde os tempos da ditadura, a partir do general Arthur da Costa e Silva, que decretou o Ato Institucional nº 5, até a democrata Dilma Rousseff. Na esfera jurídica, Tiãozinho tocou na posse de ministros do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça e no Tribunal Superior do Trabalho. No Itamaraty foram incontáveis apresentações em recepções de presidentes de outros países em visitas oficiais, em festas de casamento etc.
Com esse desempenho, Tiãozinho teve o seu trabalho reconhecido e numa iniciativa do deputado Chico Vigilante foi homenageado pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, em setembro de 2024, quando recebeu o título de “Cidadão Honorário de Brasília”