7 de outubro de 2024

Um árbitro grego, mas com alma brasileira

Por José Cruz

Comemora-se, daqui a três anos, em 2027, o centenário de nascimento de Samuel Gobel, um grego que nasceu no berço dos Deuses, Atenas, mas se consagrou em solo brasileiro, numa modalidade que lota estádios desde os primórdios, o futebol de salão ou futsal, na era moderna.

Samuel, o Samuca, esteve na II Grande Guerra Mundial, foi capturado, preso em campo de concentração, mas ganhou a liberdade ao final do conflito. Em 1956 ele chegou ao Brasil, onde ficou pouco tempo e pegou outro navio para a Suécia. Porém, a embarcação sofreu uma pane no litoral do Maranhã e Samuca desembarcou por lá mesmo e a Europa ficou no esquecimento. Para se sustentar, foi biscateiro, camelô, vendeu joias, tornou-se comerciante.

     

Samuel Gobel e o filho Jorge

Chegada

Nesse mesmo ano, o futebol de salão chegava ao Brasil e aportou nas bandas da capital São Luiz. A modalidade foi logo absorvida pelos jovens, principalmente, como os alunos do Colégio Marista da capital maranhense. Samuca divertia-se vendo aquele novo jogo da garotada.

Os desentendimentos entre os jogadores eram comuns, as regras ainda não estavam bem absorvidas e foi então que Samuca, certa vez, foi convidado para apitar uma partida entre os jovens estudantes. Respeitosos ao árbitro, as confusões desapareceram e Samuca ganhou prestígio pela seriedade com que apitava.

Em Brasília

Árbitros de Brasília – 1977 – Ataíde, Samuel Gobel, Pedrinho e Padilha

Fora das quadras, Samuca tinha outra paixão, Maria Lúcia, com a qual se casou e teve um filho. Em 1963, a família se muda para Brasília. Dois anos depois, Samuca trouxe a Brasília “Os Cometas”, consagrado time de futebol de salão do Maranhão, por ele fundado.

Paralelamente, Samuca frequentou um curso de arbitragem, ponto de partida para a sua trajetória na modalidade, na qual se consagrou mundialmente.

 Prestígio

Com o tempo, Samuca filiou-se à antiga Confederação Brasileira de Desportos, hoje CBF, à Federação Internacional de Futebol de Salão), à Confederação de Desportos Universitários e, por fim, à poderosa Fifa.

Prestigiado no Brasil e fora dele, Samuca apitou o primeiro Campeonato Mundial de Futebol de Salão, realizado em Campinas, São Paulo. Nessa ocasião, o Brasil conquistou o seu primeiro título na modalidade.

A convite de José Bonetti, que erra o diretor técnico da Fifa, Samuca presidiu uma comissão que criaria o futebol de cinco. E foi sob essa bandeira que em 1989, na Holanda, foi disputado o primeiro Campeonato Mundial de Futebol de Cinco, organizado pela Fifa.

Campeão

O Brasil, representado por atletas do Bradesco e alguns de Brasília, sagrou-se campeão. Na sequência, Samuca viaja pelo mundo divulgando a nova modalidade da Fifa e as regras por ele elaboradas. Diante do sucesso da modalidade, os países se desfiliaram da Federação Internacional de Futebol de Salão – Fifusa – e aderiram à proposta da Fifa. Sucesso total e, assim surgiu o hoje conhecidíssimo “futsal”.

Em 2005, depois de 42 anos morando em Brasília, Samuca voltou para São Luiz, onde morava o filho e netos. Em 2007, ele completou 80 anos e dois meses depois, tristemente,  ele faleceu, deixando como legado a sua retidão nas arbitragens e o meritório trabalho pela implantação e o desenvolvimento dessa modalidade no país.

“O bom árbitro não é só aquele que não se corrompe, mas que sabe aplicar a regra, coibir a violência e ter personalidade para se impor na quadra, campo ou onde quer que esteja exercendo a profissão”

 Entrevista

Em 14 de maio de 1989, Samuca concedeu uma ótima entrevista ao repórter Sandro Silveira, do Correio Braziliense, cujo texto aqui publicamos, em homenagem a esse grande grego-brasileiro, consagrado internacionalmente como o melhor árbitro de futebol de salão do mundo. Confira a entrevista, abaixo: