Por José Cruz e Helio Tremendani
No último dia 25 de maio completaram-se 57 anos de um amistoso em Brasília em que a então poderosa equipe do Santos F.C. liderada pelo Atleta do Século, Pelé, derrotou a Seleção de Brasília por 5×1
A renda de R$ 44 mil (quarenta e quatro mil cruzeiros, moeda de então) desse jogo se destinaria à conclusão do Estádio Nacional de Brasília, que posteriormente seria batizado como “Estádio Pelezão”.
Ironicamente, o Rei Pelé, que marcou um dos cinco gols naquele amistoso, veria tristemente demolido o estádio que foi construído para homenageá-lo. Isso ocorreu em 2009, numa transação da então Federação Metropolitana de Futebol com empresários do mercado imobiliário da capital da República.
O jogo
Foi um bom jogo, apesar da superioridade técnica do time visitante, com a dupla Pelé e Coutinho colocando a defesa da Seleção de Brasília em constante apreensão.
Pelé era o centro das atenções, claro. E, por extensão, os torcedores estavam de olho no seu marcador, o zagueiro central Melão. Zé Maria, no meio do campo, também dava combate ao craque santista, mas de forma pesada a fim de evitar que Pelé fizesse o seu carnaval.
Como as entradas duras se sucediam, Pelé pediu a Melão (capitão da Seleção Brasiliense) que alertasse sua equipe “pra jogar na bola”, pois as entradas estavam sendo muito duras.
Como o pedido do Rei não surtiu resultado, o troco veio na mesma moeda. Numa determinada dividida, Pelé entrou duro em Zé Maria, que sentiu e foi ao chão.
“Eu avisei pra maneirar. Taí o troco”, disse Pelé aos adversários.
Aos 32 minutos do segundo tempo, Zé Maria desperdiçou um pênalti, defendido pelo goleiro Cláudio.
Categoria
Bola rolando e Pelé logo mostrou toda a sua categoria, para o desespero do zagueiro Melão, que não podia falhar diante da torcida brasiliense.
Em determinado momento, Pelé recebe um lançamento, mata a bola com categoria e vê Melão chegando para desarmá-lo. Com rapidez, Pelé dá um leve toque na bola por entre as pernas de Melão e deu continuidade à jogada ainda com a bola dominada.
Apesar disso, o zagueiro brasiliense saiu de campo reconhecido pelos colegas e torcedores. Afinal, não fosse o seu empenho na defesa para segurar o poderio do ataque santista, o placar teria sido bem maior.
Testemunha
Quem estava no estádio e constatou esses fatos foi Hélio Tremendani, à época com 15 anos e irmão de João Mello, o Melão. É de Hélio o seguinte depoimento:
“Meu irmão me chamou para ir para o estádio no ônibus da Seleção de Brasília, que teria entrada garantida. Mas, eu preferi ir com a turma de amigos, apesar das dificuldades para ter acesso ao estádio. Conseguimos entrar passando por espaços abertos no muro, mas isso nos causou preocupação durante todo o jogo. Cada vez que policiais se aproximavam do nosso grupo, temíamos que estavam à nossa procura e saíamos correndo”, conta Hélio, rindo muito das suas peripécias dos bons tempos sapecas em Brasília.
FICHA TÉCNICA
SELEÇÃO DE BRASÍLIA
Zé Valter; Didi, Melo, Farnazi e Aderbal; Zé Maria e Luis; Sabará, Edinho (Cidio), Beto (Paulinho) e Arnaldo.
Técnico: Samuel Lopes
SANTOS
Cláudio; Lima, Joel, Orlando (Oberdan) e Rildo; Zito (Buglê) e Clodoaldo; Wilson, Coutinho (Douglas), Pelé (Toninho) e Abel (Edu).
Técnico: Antoninho
Gols:
Santos – Pelé, 3 minutos; Coutinho, aos 40; Wilson, aos 63; Douglas, aos 80; e Toninho, 89 minutos.
Seleção DF – Aderbal aos 84 minutos.
Foto
A foto da equipe do Santos que ilustra esta memória é do saudoso profissional Orlando Brito, que nos deixou em 2022, depois de rápida enfermidade.
Premiado repórter fotográfico na área de política, um dos melhores que a imprensa brasileira já teve, Brito fotografava, também, fatos que faziam a rotina da nova Capital da República.
Com o passar dos anos, o acervo de Orlando Brito tornou-se uma preciosidade, pois são imagens de momentos históricos de Brasília, como esse em que o Rei do Futebol Mundial aqui se apresentou.