12 de setembro de 2024

“Geração Brasília”: Gilberto, o craque do handebol

Por Hélio Tremendani e José Cruz

 Gilberto de Jesus Cardoso, um dos orgulhos do esporte na capital da República, foi formado na mais legítima “Geração Brasília” de atletas candangos.

 Com 10 anos de idade, ele poderia ter encaminhado a sua carreira para o futebol ou para o basquete, pois a sua altura já batia nos 1,80m.

 Porém, numa guinada extrema, ele trocou os pés pelas mãos e se tornou craque consagrado no handebol.

Foto: José Cruz

 Testemunha

 Testemunha ocular da evolução desse atleta, que aqui nasceu em 1968, o ex-presidente da ARUC, Hélio Tremendani, afirma com convicção:

“Gilberto foi, sem dúvida, o melhor jogador da história do handebol em Brasília e um dos orgulhos do Brasil”

Gilberto e Hélio: muitas histórias sobre o esporte em Brasília

A opção por essa modalidade mostrou-se acertada já no início da carreira, quando Gilberto atuou pelo Tiradentes, Cota Mil e ARUC, ainda nas categorias menores.

“Quando eu morava na QNL Norte, jogava futebol por diversão. Mas quando fui para a Escola Classe 106, em Taguatinga, fui incentivado a jogar handebol, pelo Professor Ermer e, depois, pelo Professor Aristóteles Castelo”, conta Gilberto, resumindo o seu ingresso na modalidade.

Desde cedo Gilberto acostumou-se a frequentar pódios, quer em eventos nacionais ou internacionais. Em 1984, por exemplo, quando ele tinha 16 anos, integrou a Seleção Infanto-Juvenil de Brasília que foi campeã Brasileira na categoria, comandada pelo Professor Serginho Barcellos.

“O Tiradentes foi o meu primeiro clube federado. Depois joguei pelo Cota Mil e logo em seguida na Aruc, sob a orientação do técnico Abelardo. Pouco depois vieram as transferências, para clubes de São Paulo”.

Títulos

Naquele início de jornada, Gilberto sagrou-se tricampeão brasiliense (1981, 1982 e 1983) jogando como armador-esquerdo. E, em 1984, já com 16 anos, integrou a Seleção Infanto Juvenil de Brasília, sob o comando do Professor Serginho Barcellos, que levou o time à conquista do título brasileiro.

Principais times

Em 1987, Gilberto foi contratado pelo Corinthians Paulista e, depois, retornou à ARUC, mas não por muito tempo:

“Tive proposta para jogar pelo Sírio Libanês e voltei a São Paulo. Dessa vez por uma temporada maior, pois joguei, também, pelo Guarulhos, São Caetano, Metodista, Pinheiros e Osasco. Aproveitei essa estada por lá e me formei em Educação Física”, conta Gilberto.

Prestígio do craque

“Quando Gilberto atuou pela ARUC, em 1988, conquistamos um importante patrocínio do BrB. Naquela época, o handebol de Brasília vivia a sua melhor fase, inclusive com a conquista dos títulos brasileiros Juvenil, com o Cota Mil, e Júnior, com a ARUC, que, por sinal, sagrou-se bicampeã”, relembra Hélio Tremendani.

Na Seleção

Destaque frequente como melhor jogador e artilheiro por onde passava, Gilberto foi convocado para a Seleção Brasileira em várias ocasiões e categorias, para eventos internacionais. Por exemplo, disputou quatro campeonatos mundiais, Hungria (1993), Islândia (1994), Turquia (1995) e Japão(1997); e uma Olimpíada, a de Barcelona, em 1992.

Em nível continental, Gilberto colecionou vários pódios, a começar pelo título do sul-americano júnior, em 1986, na Argentina.

No ano seguinte, já como profissional, ganhou a medalha de bronze nos históricos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, 1987.

Memória

O Pan de Indianápolis entrou em destaque na história do esporte brasileiro, pois foi quando a Seleção de Basquete nacional, liderada pelo cestinha Oscar, derrotou os Estados Unidos (120 x 115) e conquistou a medalha de ouro na quadra adversária, diante de uma atônita torcida gringa.

Em Cuba

Ainda em Jogos Pan-Americanos, Gilberto voltou a brilhar, quatro anos depois, quando a Seleção Brasileira de Handebol ganhou a medalha de prata nos Jogos de Cuba, 1991.

“Um momento inesquecível daqueles Jogos foi ter recebido a medalha das mãos do então Comandante Fidel Castro”

Era a segunda medalha de prata conquistada na “Ilha”. A primeira fora dois anos antes, 1989, no Campeonato Pan-Americano.

O ciclo de eventos continentais disputados por Gilberto encerrou-se com outro pódio, também de prata, nos Jogos Pan-Americanos da Argentina, em 1995.

Fidel Castro entrega a Gilberto a medalha de prata conquistada no Pan-Americano de Cuba

Gestor

Hoje, aposentado nas quadras, Gilberto levou para o gabinete de gestor do esporte a experiência do que aprendeu enquanto jogava. Ele é o presidente da Federação de Handebol do Distrito Federal, além de ser professor no Colégio La Salle

Para início de conversa, são tempos bem distintos:

“Na nossa época de jogador a modalidade era muito mais forte, apesar de não ter os investimentos de hoje” – Bolsa Atleta, Lei de Incentivo, patrocínio das estatais, etc – avalia Gilberto.

Por “mais forte” entenda-se, também, os campeonatos. Eram muito mais disputados entre os dez clubes de então. Havia mais equilíbrio entre as equipes.

“Hoje não. Em nível nacional é o Pinheiros, o Taubaté e mais um time”, compara Gilberto. “E isso ocorre nas demais modalidades. Não é só no handebol, não!”

Os investimentos financeiros contam nessa avaliação. Os empresários paulistas, por exemplo, eram ótimos nos patrocínios, o que facilitava nas contratações de jogadores, deixando um legado daquelas temporadas.

Gilberto avalia que o handebol brasileiro ganhou grande impulso na preparação do país para os Jogos Olímpicos Rio 2016. Naquela ocasião, o Comitê Olímpico do Brasil contratou o renomado técnico espanhol Juan Oliver, quando treinou a equipe feminina entre 2004 e 2008.

A partir desse intercâmbio com o espanhol, cresceu a presença de atletas brasileiros em times europeus, onde se disputam os mais fortes campeonatos do mundo.

“Já no Brasil, temos poucos times de ponta. No masculino se destacam o Praia Clube, de Uberlândia, o Pinheiros e o Taubaté, de São Paulo. E no feminino é o Pinheiros, o Concórdia, de Blumenau e o São Bernardo”.

Ronaldo lembra que, quando jogador, chegou a negociar a sua ida para o Benfica, de Portugal, em 1989. Porém, ele não concretizou essa saída porque o clube já tinha um jogador romeno, quando era permitido apenas um estrangeiro por agremiaç;ao. Na mesma ocasião, recebeu uma ótima proposta do Sírio, de São Paulo, onde foi jogar.

“São Paulo é a força do handebol no país. Tem vários e bons times, a maioria com ótimos apoios empresariais, o que ajuda a contratar os melhores jogadores do país”, explica Ronaldo.

Em Brasília são sete clubes federados, mas neste ano de 2024 a expectativa é que o campeonato local reúna 12 entidades. A modalidade é muito praticada na cidade, a partir da escola, a grande fornecedora de jogadores para os times. Nas Olimpíadas da Ceilândia, anualmente, são oito times no handebol masculino e oito no feminino. “Esse número de equipes mostra o potencial daquela cidade”, exemplifica Ronaldo.

“Com isso, trabalho na Federação para que Brasília volte a ter equipes fortes e de boa representatividade nacionais, como foi no passado”

 Em Brasília

O handebol em Brasília começou a ser praticado já no ano de fundação da cidade, 1960, por iniciativa de um basqueteiro nato, o professor Pedro Rodrigues.

Naquela época, a federação de handebol era um departamento da Federação Desportiva de Brasília que, mais tarde, tornou-se independente, como as demais modalidades, por decisão do Conselho Nacional de Desporto, o CND.

 Momento histórico

 Foram muitos títulos e pódios conquistados ao longo da carreira. Mas, Gilberto guarda com carinho a emoção especial o momento da premiação com a medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de Cuba, 1991, entregues pelo então Comandante Fidel Castro, incentivador do esporte na Ilha e, na foto, com a Seleção Brasileira de Handebol.