Memórias da Cultura e do Esporte de Brasília
Tendo a majestosa Torre Eifel como painel de fundo o brasiliense de Sobradinho, Caio Bonfim, conquistou a medalha de prata na prova de marcha atlética de 20km dos Jogos Olímpicos de Paris.
O feito ocorreu na madrugada desta quinta-feira, primeiro de agosto, inaugurando as provas de atletismo da competição.
Chegar ao pódio olímpico do atletismo é o primeiro feito de um atleta do Distrito Federal 40 anos depois da medalha de outro brasiliense, Joaquim Cruz, ouro nas Olimpíadas de Los Angeles, 1984. Cruz também ganhou prata, na mesma prova, nos Jogos de Seul, 1988.
Fazendo história
Caio, filho de pais intimamente ligados ao atletismo, João Sena, técnico, e Gianetti Sena, ex-atleta, heptacampeã brasileira da marcha e treinadora do filho, cumpriu os 20km em Paris com o tempo de 1h19m09s. O medalhista de ouro, Brian Daniel Pintado, do Equador, fez 14s menos, 1h18min55s. O pódio foi fechado pelo espanhol Alvaro Martin, bronze, com 1h19m11s. 39°.
Depoimento
“Olimpíadas é diferente de tudo, né, cara? Tinha uma expectativa, mas você viu tanto que é forte o nível. E Deus proporcionou esse momento. A gente se entregou. Jogos olímpicos não são só essas 20 voltas aqui. É um trabalho, mas também o resultado, graças a Deus, valeu a pena. Eu queria, eu entreguei o meu melhor todos os dias, todas as voltas, todos os momentos, todos os treinamentos deste ciclo olímpico curto de três anos para que eu passasse antes da minha chegada olhar para trás e falar: “cara, eu entreguei”. Tudo que eu podia entregar. Tomara que seja suficiente, e graças a Deus foi. Eu estava com duas faltas ali no final, então pra mim não importava – disse Caio Bonfim após a prata.
A carreira
A carreira de Caio em nível pré-olímpico começou nos Jogos Pan-Americanos do México em 2011. Porém, a 50 metros da chegada, ele foi punido pelo terceiro cartão e foi eliminado da prova.
Já em Jogos Olímpicos, Caio estreou em Londres 2012, quando terminou a prova de 20km em 39º lugar. Sem desanimar voltou para Sobradinho, no Distrito Federal, e intensificou os treinos, sobre a orientação da mãe, na pista do estádio Augostinho Lima.
Três anos depois de Londres, veio, enfim, a medalha, bronze, nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, em 2015. Foi uma espécie de treinamento para as Olimpíadas Rio 2016. Apesar do bom desempenho, ficou em quarto lugar, mas o pódio se aproximava desse abnegado e persistente atleta, na foto com sua mãe, Gianetti.
Caio já era conhecido no mundo do atletismo pela sua evolução na modalidade. Assim, foi duas vezes medalha de bronze nos Mundiais de Marcha Atléticop, Londres, em 2017 e Budapeste 2023.
Com esse desempenho, Caio já aparecia entre os favoritos para as Olimpíadas de Paris. Nessa prova, disparou, logo no início, mas foi advertido duas vezes e moderou. Ele não poderia receber o terceiro cartão sob pena de ser desclassificado. Em determinado momento da prova, chegou a estar em 30º lugar, mas reagiu até chegar ao pelotão dos líderes, onde assumiu a vice-liderança até fechar a prova.
Dificuldades
Quando nasceu, em 1991, na cidade satélite de Sobradinho, há 20km do centro de Brasília, Caio foi identificado com intolerância à lactose. Em decorrências, as suas perninhas ficaram arqueadas, devido à falta de lactose. O tratamento foi longo e de muitas expectativas.
Caio passou por várias cirurgias logo nos primeiros anos de vida, realizadas pelo médico Álvaro Nomura. A aplicação de gesso na pós-cirurgia ajudava no realinhamento das perninhas da criança, mas tudo indicava que ele teria dificuldades para andar normalmente.
O tempo passou, os primeiros passos, as caminhadas, vieram os treinos, as viagens e as competições.
Caio, que era apaixonado por futebol,
começou a acompanhar João e Gianetti, então atleta, na pista de atletismo de Sobradinho… E, aos poucos, vieram as primeiras marchas…
Paris, 1º de agosto de 2024.
O garoto de perninhas tortas nos anos 1990 está no pódio olímpico dos Jogos de Paris. Medalha de prata na marcha atlética!
